segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Reciclagem musical XVIII

Um pouco na continuação da 16ª e 17ª reciclagens musicais, continuamos a seguir a carreira dos britânicos Muse, desta vez com uma canção do seu quarto álbum, Black Holes and Revelations de 2006. Este é um álbum muito interessante, com uma forte componente política e de intervenção. No entanto, a musica que eu escolhi é uma das poucas canções em aborda outros temas que não a realidade politica actual, não deixando por isso de ser uma curiosa reflexão sobre as relações humanas.

"Hoodoo"

Come into my life
Regress into a dream
We will hide
Build a new reality
Draw another picture
Of the life you could have had
Follow your instincts
And choose the other path

You should never be afraid
You're protected from trouble and pain
Why, why is this a crisis in your eyes again

Come to be
How did it come to be
Tied to a railroad
No love to set us free
Watch our souls fade away
Let our bodies crumble away
Don't be afraid
I will take the blow for you

And I've had recurring nightmares
That I was loved for who I am
And missed the opportunity
To be a better man

Penso que muitas pessoas gostariam de construir uma realidade privada, protegida da hostilidade do mundo exterior, onde tudo seria à medida dos nossos sonhos e tudo seria como gostariam que sua vida tivesse sido. Mas estas redomas de vidro em que tantos gostariam de se esconder não passam de abrigos temporários, de mundo idealizados nos quais não podemos viver. A realidade acaba mais cedo ou mais tarde por se impor em todo o seu terrível esplendor, e à medida vida acaba demasiadas vezes por não seguir o caminho sonhado, o maior se torna o choque entre a fantasia e a realidade. Tarefa árdua e ingrata é a daqueles que com a melhor das intenções tentar evitar ou diminuir esse choque que sentem terrível para a pessoa amada que tentam a todo custo proteger. Mas há acções na vida que não podem ser partir de outrem: têm de ser as próprias pessoas a encontrar o seu caminho no meio dos destroços dos sonhos perdidos e enfrentar o que vida lhes tiver para lhes mostrar. E no entanto sem que isso implique a solidão total, há sempre a hipótese de o caminho ser percorrido a dois, uma possibilidade de ir aparando os golpes do destino.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Decompondo o arco-iris

Em meados de Julho deste ano eu li um livro muito interessante chamado Decompondo o arco-íris da autoria do biólogo inglês Richard Dawkins. No entanto foram as primeiras linhas deste livro ficaram na minha memória. Rezava assim:

Vamos morrer e isso faz de nós uns felizardos. A maior parte das pessoas nunca irá morrer porque nunca chegará a nascer. O número de pessoas que podia estar aqui no meu lugar, mas que de facto nunca verá a luz do dia excede os grãos de areia do deserto da Arábia. Certamente esses fantasmas não nascidos incluem poetas mais sublimes do que Keats, cientistas mais notáveis que Newton. Sabemo-lo porque o conjunto de pessoas que existem e existiram constitui uma ínfima parte do que é permitido pelo nosso ADN. Contrariando estas probabilidades assombrosas, somos nós que na nossa normalidade, estamos aqui.” Richard Dawkins, Decompondo o arco-íris, capitulo 1

Todos vamos morrer um dia pelo simples facto de estarmos vivos. Essa é a única condição para morrermos. A morte é outra face da vida, tão indissociável dela como o dia o é da noite. E assim é para todos os organismos vivos. A evolução pode permitido que nos tornássemos mais complexos, que pudéssemos ter uma consciência diferente do mundo à nossa volta, mas somos construídos pelo mesmo que o é o mundo vivo e mesmo não-vivo à nossa volta. E no nosso lugar poderia estar hoje em dia alguém completamente diferente de nós apenas algo no passado tivesse sido ligeiramente diferente. Mas existimos, é um facto, somos nós que estamos aqui, e não qualquer outra pessoa. Não como resultado de uma desígnio predefinido, mas apenas resultado de uma longa cadeia de eventos favoráveis. Sem nenhum propósito ou intenção em particular, a nossa vida não tem em si nenhum sentido ou significado que não seja aquele que nós lhe atribuirmos, através do caminho que decidimos percorrer. Claro que somos limitados pelas circunstâncias, pela sociedade em que vivemos, pelas pessoas à nossa volta, pelo acaso, pelo tempo, pelo espaço. Mas há que sobra disso que nos compete a nos determinar o que fazer com volta da roleta russa da existência que nos permitiu estar aqui e agora e poder viver durante algumas décadas neste mundo. O único que temos ou iremos ter.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Keane no coliseu de Lisboa

Antes de mais,deixem-me dizer-vos que este é um assunto acerca do qual eu sou fortemente suspeita. Os keane são uma das minhas bandas de eleição e eu ansiava pela chegada do dia 12 de Novembro desde meados de Setembro, quando comprei o bilhete. Cheguei à rua do coliseu às 16h e 30 min e lá esperei até que as portas de abrissem, o que aconteceu às 20h e depois de uma breve a precipitada corrida, consegui ficar numa posição algo privilegiada, uma vez que só tinha duas pessoas entre mim e a grade e o palco devia estar a menos de 3 metros de onde eu me encontrava. A primeira parte foi bastante melhor do que eu esperava, A Rita Redshoes fez um bom trabalho, ela que não só canta muito bem, como as canções eram bonitas e conseguiram cativar alguma atenção dos espectadores ansiosos pela chegada da actuação principal da noite. Quando às 22h os keane entraram no palco, deu-se início a uma noite que pelo menos para mim foi inesquecível. O espectáculo abriu com o The lovers are losing e Better than this, dois temas do mais recente álbum Perfect symmetry, seguidos dos clássicos Everbody’s changing e Nothing in way way, voltando em seguida aos ritmos mais recentes com Again and again e You don’t see me. Em seguida This is the last time e um enérgico Spiralling (que Tom Chaplin introduziu dizendo: “I saw a poster saying “I’ve been waiting for this moment to come”, well, I think the moment has come for you”) encheram o coliseu. Depois seguiu-se um mini-concerto acústico. Tom Chaplin interpretou Bend and Break sozinho, tocando guitarra acústica, e depois a banda tocou versões acústicas de Try again e We might as well be strangers. Os novos ritmos voltaram You haven’t told me anything, seguido de A bad dream e Perfect symmetry que Tom anunciou como sendo na sua melhor composição até à data e como sendo uma canção de esperança, que após os acontecimentos recentes nos EUA (eleição de Barack Obama) soava especialmente adequada. Os clássicos voltaram em força com Somewhere only we konw (canção que deu nome a este blog) e um explosivo Crystal ball. A encore pedida pela audencia inclui uma musica de cada álbum comçando com Black burning heart, seguido de Is it any wonder? e terminando com Bedshaped (Reciclagem Musical XI). A despedida foi dita com as seguintes palavras do vocalista e guitarrista Tom chaplin “what more can I say, this means so much to us” e “we knew lisbon would be the final night in this tour and we also knew it would be the most celebratory” e dito isto pegou uma bandeira portuguesa que alguém no publicou lhe dera e pendurou-a no seu microfone antes de cantar a ultima canção da noite. A banda teve na mina opinião um boa actuação, com uma performance notável do grupo, e revelando que Tom Chaplin é um guitarrista competente. A banda mostrou ainda grande entusiasmo, com Tom a cantar frequentemente junto a borda do palco ou mesmo fora dele e junto ao publico, a audiência soube responder bem à dedicação deles cantando a plenos pulmões todas a canções tocadas como se fossem singles de sucesso. Eles prometeram voltar em breve. Eu espero que sim.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Reciclagem musical XVII

Esta reciclagem musical segue o percurso da banda de rock inglesa Muse, cujo álbum seguinte, Absolution (2003). Este álbum inclui algumas canções de amor (que apesar de tudo não são muito frequentes no registo musical deste grupo) incluindo uma canção chamada Falling away with you, que é na minha opinião particularmente bonita e que merece ser a primeira canção a amor na serie das reciclagens musicais.

"Falling Away With You"

I can't remember when it was good
moments of happiness elude
maybe I just misunderstood
all of the love we left behind
watching the flash backs intertwine
memories I will never find

so I'll love whatever you become
and forget the reckless things we've done
I think our lives have just begun
I think our lives have just begun

and I'll feel my world crumbling
I'll feel my life crumbling
I'll feel my soul crumbling away
and falling away
falling away with you

staying awake to chase a dream
tasting the air you're breathing in
I know I won't forget a thing
promise to hold you close and pray
watching the fantasies decay
nothing will ever stay the same
all of the love we threw away
all of the hopes we cherished fade
making the same mistakes again
making the same mistakes again

I can feel my world crumbling
I can feel my life crumbling
I can feel my soul crumbling away
and falling away
falling away with you

all of the love we've left behind
watching the flash backs intertwine
memories I will never find
memories I will never find

O amor e a nostalgia são uma combinação explosiva. Explosiva e algo intrigante. Quantos sonharam com uma vida ideal, percorrida em nome do amor que fez o seu mundo girar ao contrário, vivida tão só ele e para ele. Prometeram amar perante tudo, juraram nunca desistir do sonho, por mais que as circunstâncias e as pessoas mudassem. Mas o tempo passa implacavelmente, trazendo um outro mundo. Um mundo em que as ilusões se foram desfazendo, as esperança acalentadas nunca passaram disso mesmo. Em que o amor foi sendo deixado ao longo de um caminho cheio de curvas e obstáculos, repleto de decisões irreflectidas e erros repetidos uma e outra vez em que o amor era desbaratado à toa, até que dos sonhos e as ilusões de outrora só restassem ruínas. Quando olham para trás e a memoria se enche de imagens, perdidas algures entre o sonho a realidade, entre o que se idealizou e o que realmente aconteceu que acabou por ser tão diferente do mundo presente que as fantasias do passado quase parecem pertencer a um mundo que não é este em que vivemos. As memórias dos dias felizes escapam-se entre os dedos, se é que de facto esses dias alguma vez existiram. Mas apesar de tudo e ainda assim, agarram-se teimosamente ao que resta do que sonharam um dia, recusam-se a desistir, e dispõem-se a recomeçar a reconstruir e manter vivo o amor que marcou as suas vidas.