terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Reciclagem musical XXV

Nesta 25ª reciclagem musical decidi continuar a 12ª reciclagem musical, trazendo mais uma canção dos Finlandeses Poets of the Fall e novamente do seu álbum de estreia Signs of Life (2004). Esta canção chama-se Shallow e é na minha opinião uma das mais belas e interessantes canções deste album e reflecte o modo como as pessoas muita vezes se relacionam com o mundo à sua volta.

"Shallow"

More in my face than is my taste
I grow so weary
I'll surrender to what they say
Let them lead the way
Till' I can no longer remember my darling dreams
Prewritten scenes,
whatever felt my own
So to save face
I'll take my place
Where I may safely feel alone

Glad the waters are so shallow
When the river runs so cold
Glad the waters are so shallow
When the river runs cold

Glad the waters are so shallow
When the river runs so cold
Glad the waters are so shallow
When the river runs cold

I'm quick to wait, and so to hate
They call me gracious for my patience
And I feel proud under that shroud
And all the while it's all evasion
Some humour here to fend off fear
And I'm a little more lost, oh dear
So to save face
I'll hold my place
So I may safely feel alone

Glad the waters are so shallow
When the river runs so cold
Glad the waters are so shallow
When the river runs cold

Glad the waters are so shallow
When the river runs so cold
Glad the waters are so shallow
When the river runs cold

Faz parte da vida convivermos com vários de grupos de pessoas dos quais acabamos por fazer parte por este ou aquele motivo. Mas com demasiada frequência quanto mais acompanhados estamos, mais sozinhos nos sentimos. Acabamos por ouvir as opiniões dos outros, deixá-los tomar as decisões, calamos os nossos pensamentos e os nossos sonhos para quando estivermos sozinhos com os nossos pensamentos, única altura em que poderemos estar finalmente em paz, sem ter que representar o nosso papel e sem que tenhamos de nos esconder por detrás da mascara protectora que envolve a nossa vida social. Na qual somos perfeitos a representar, somos seres dóceis e pacientes, secretamente orgulhosos da nossa conteção e paciência a roçar o estoicismo, disfarçamos o medo e a insegurança o melhor que somos capazes, à medida que nos vamos sentidos cada vez mais perdidos e desenquadrados naquele contexto. No fundo sentimo-nos gratos de darmos tão pouco de nós a estas pessoas à volta, se sentimos tudo tão pouco como nosso, já que não nos identificamos com o que ouvimos à nossa volta, não estamos minimamente ligados a todas estas pessoas, elas existem, fazem parte dos nossos dias mas não são nada para nós a não ser rostos e vozes familiares que são parte do cenário das nossas vidas.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Antologia Cinematográfica de 2008

Continuando os balanços de fim de ano, vou passar em revista os filmes que vi no cinema este ano. Tal como na antologia do ano anterior, esta lista corresponde apenas aos filmes que eu achei que valeu a pena ter ido ver. Este ano não foi muito bom em termos de cinematograficos e os filmes que vou recordar nesta antologia são relativamente poucos. No entanto, apesar de tudo este ano vi alguns filmes que ficaram na minha memoria como alguns dos melhores que já vi.

1) Call Girl (Call girl) – (3 estrelas)
2) O sonho de Cassadra (Cassandra’s dream) – (5 estrelas)
3) Expiação (Atonement) – (3 estrelas)
4) Detenção secreta (Rendition) – (4 estrelas)
5) Vista pela última vez (Gone baby gone) – (4,5 estrelas)
6) Michael Clayton: uma questão de consciência (Michael Clayton) – (3 estrelas)
7) No vale de Elah (In the valley of Elah) – (4 estrelas)
8) Duas irmãs, um rei (The other Boleyn girl) – (4 estrelas)
9) P. S. – I love you (P. S. – I love you) – (4 estrelas)
10) Persépolis (Persépolis) – (5 estrelas)
11) O cavaleiro das trevas (The dark knight) – (5 estrelas)
12) Crepúsculo (Twilight) – (3,5 estrelas)
13) Ensaio sobre a cegueira (Blindness) – (4 estrelas)
14) A Turma (Entre les murs) – (4 estrelas)

Antologia literária de 2008

O final do ano é tempo de balanços, e à medida que 2008 se aproxima do fim resolvi deixar-vos, tal como fiz em 2007, a minha antologia literária deste ano. Este ano foi pródigo em leituras, de umas gostei muito, de outras nem tanto, mas vale sempre a pena rever os 30 livros que li neste ano de 2008.

1) José Norton – O Ultimo Távora
2) Joanne Harris – Os sapatos de rebuçado
3) Julliet Marillier – O poço das sombras
4) Bernard Cornwell – Sharpe e a campanha de Salamanca
5) Richard Dawkins – The ancestor’s tale
6) Arturo Pérez-Reverte – O sol de Breda
7) C. J. Sansom - Dissolução
8) John Buchan – The 39 steps
9) Bernard Cornwell – Sharpe’s honour
10) Eça de Queiroz – Alves e companhia
11) Marion Zimmer Bradley – Lady of Avalon
12) José Manuel Saraiva – Aos olhos de Deus
13) Peter Cheney – Este homem é perigoso
14) Colleen McCullough – A viagem de Morgan
15) Richard Dawkins – Decompondo o arco-íris
16) C. J. Sansom – Revelation
17) Bernard Cornwell – Sharpe’s prey
18) Oscar Wilde – O crime de Lord Arthur Savile e outras historias
19) Richard Dawkins – O relojoeiro cego
20) Miguel Sousa Tavares – Rio das flores
21) Colleen McCullough – O Primeiro Homem de Roma I – O Amor e o poder
22) Richard Lewontin, Steven Rose, Leon Kamin – Genética e Politica (Titulo original: Not in our genes: Biology, ideology and the human nature)
23) Stephenie Meyer – Eclipse
24) Júlio Machado Vaz – O sexo dos anjos
25) Colleen McCullough – Pássaros Feridos
26) Bernard Cornwell – Sharpe’s Regiment
27) Arturo Pérez-Reverte – O ouro do rei
28) José Rodrigues dos Santos – A filha do capitão
29) Marion Zimmer Bradley – The mists of Avalon – Book I - The mistress of magic
30) José Saramago – O ano da morte de Ricardo Reis

Reciclagem musical XXIV

Continuando a 23ª reciclagem musical, escolhi mais uma canção do Álbum A Fever You Can’t Sweat Out dos norte-americanos Panic! At the disco, intitulada "Bluid God, Then we'll Talk"

"Build God, Then we'll Talk"

It's these substandard motels on the (lalalalala) corner of 4th and Fremont Street.
Appealing only because they are just that un-appealing
Any practiced catholic would cross themselves upon entering.
The rooms have a hint of asbestos and maybe just a dash of formaldehyde,
And the habit of decomposing right before your very (lalalala) eyes.

Along with the people inside
What a wonderful caricature of intimacy
Inside, what a wonderful caricature of intimacy

Tonight tenants range from: a lawyer and a virgin
Accessorizing with a rosary tucked inside her lingerie
She's getting a job at the firm come Monday.
The Mrs. will stay with the cheating attorney
moonlighting aside, she really needs his money.
Oh, wonderful caricature of intimacy.
Yeah (Yeah)

And not to mention, the constable, and his proposition, for that virgin
Yes, the one the lawyer met with on "strictly business"as he said to the Mrs.
Well, only hours before,after he had left, she was fixing her face in a compact.
There was a terrible crash (There was a terrible crash)
Between her and the badge
She spilled her purse and her bag, and held a "purse" of a different kind.

Along with the people inside
What a wonderful caricature of intimacy
Inside, what a wonderful caricature of intimacy

There are no raindrops on roses and girls in white dresses.
It's sleeping with roaches and taking best guesses
At the shade of the sheets and before all the stains
And a few more of your least favorite things.

Se os lugares que a esta canção começa por descrever pudessem falar e contar-nos o que viram dos seus habitantes, contariam certamente muitas histórias como esta. Histórias de vidas duplas, de encontros clandestinos, de situações que todos sabem que existem, mas que preferem fingir que não existem a bem das aparências. Do mesmo modo que ignoram estes lugares, que mais não são do que o espelho da degradação das vidas daqueles que os habitam momentaneamente. Como este advogado, que procura algo se pareça vagamente com amor, quem sabe se na tentativa de por momentos sentir-se menos só. Como esta mulher que, por necessidade, baixa auto-estima, demasiadas desilusões na vida, ou talvez um pouco de tudo isto e muito mais, se sujeitam a esta situação humilhante em troca de um emprego. Ou ainda como a mulher do advogado, que sabe de toda a situação e sofre por isso, mas que depende economicamente deste, que acaba por encolher os ombros e deixar o tempo passar, sem ânimo para procurar outro rumo na vida. Neste falso triângulo amoroso, o amor e precisamente a única coisa que de todo não encontra lugar, já que nenhum deles está minimamente apaixonado, tudo é feito com um objectivo claro, um interesse (emprego, dinheiro o que for) definido à cabeça, que traz consigo um preço a pagar. Tudo isto seria caricatural se não estivessem em jogo as vidas e os sentimentos de três pessoas, que há muitos perderam a inocência e as ilusões e têm de lidar com uma realidade que nada a tem ver com aquilo que um dia sonharam.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Reciclagem musical XXIII

Nesta vigésima terceira reciclagem musical, recuamos um pouco no tempo até 2005, ano em que os norte-americanos Panic!At the disco editaram o seu album de estreia, “A fever you can’t sweat out”, que inclui algumas canções interessantes como é o caso desta “I Constantly Thank God For Esteban”.

“I Constantly Thank God For Esteban”

Give us this day our daily dose of faux affliction
Forgive our sins
Forged at the pulpit with forked tongues selling faux sermons.
'Cause I am a new wave gospel sharp, and you'll be thy witness
So gentlemen, if you're gonna preach, for God sakes preach with conviction!

Strike up the band! Whoa-oh, the conductor is beckoning
Come congregation, let's sing it like you mean it
No. Don't you get it, don't you get it? Now don't you move.
Strike up the band! Whoa-oh, the conductor is beckoning
Come congregation, let's sing it like you mean it
No. Don't you get it, don't you get it?
Now don't you move.Just stay where I can see you.
Douse the lights!

We sure are in for a show tonight
In this little number we're graced by two displays of character,
We've got: the gunslinger extraordinaire walking contradictions
And I for one can see no blood from the hearts and the wrists you allegedly slit
And I for one wont stand for this if this scene were a parish you'd all be condemned.

Strike up the band! Whoa-oh, the conductor is beckoning
Come congregation, let's sing it like you mean it
No. Don't you get it, don't you get it? Now don't you move.
Strike up the band! Whoa-oh, the conductor is beckoning
Come congregation, let's sing it like you mean it
No. Don't you get it, don't you get it? Now don't you, don't you move.
Just stay where I can see you
Douse the lights!

We sure are in for a show tonight
Just stay where I can see you
Douse the lights!We sure are in for a show tonight
Stay where I can see you
Douse the lights!

Esta canção retrata magnificamente uma situação mais frequente do que se possa pensar: a fraude religiosa. Situação que seria ridícula, se não fosse tão séria, por explorar emocionalmente e frequentemente também financeiramente um número crescente de pessoas nos países ocidentais. Estas seguem frequentemente líderes carismáticos, com discursos tão fervorosos quanto ocos, que se montam por vezes autênticos espectáculos com êxtases e milagres fictícios mas elaborados de modo a atrair novos crentes. Estas seitas religiosas aproveitam-se da não só da ingenuidade de muitas pessoas, cujo pensamento é dominado pela superstição e pelo obscurantismo, mas muitas vezes também de situações de vida precárias, ou pessoas emocionalmente vulneráveis, a quem falta o discernimento e o cepticismo para verem que tudo não passa de teatro, de exibição, e que de facto nada significa.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Reciclagem musical XXII

Continuando em 2008, e na sequência da 14ª reciclagem musical e do percurso musical dos britânicos Kaiser Chiefs, escolhi uma canção do seu terceiro álbum Off with their heads, que continua o espírito critico dos dois albums anteriores (Employment e yours truly angry mob) como se pode ver nesta Never miss a beat (o primeiro single deste novo álbum).

“Never miss a beat”

What did you learn today?
I learned nothing
What did you do today?
I did nothing
What did you learn at school?
I didn't go
Why didn't you go to school?
I don't know

It's cool to know nothing
It's cool to know nothing

Television's on the blink
There's nothing on it
I really want to really big coat
With words on it
What do you want for tea?
I want crisps
Why didn't you join the team?
I just didn't

It's cool to know nothing
It's cool to know nothing

Take a look, take a look, take a look
At the kids on the street
No they never miss a beat
No they never miss a beat
Never miss a beat
Never miss a beat, beat, beat, beat

Here comes the referee
The light's flashing
Best bit of the day
Now that's living
Why don't you run away?
Are you kidding?
What is the golden rule?
You say nothing

It's cool to know nothing
It's cool to know nothing

Take a look, take a look, take a look
At the kids on the street
No they never miss a beat
No they never miss a beat
Never miss a beat
Never miss a beat, beat, beat, beat


Se o caso não fosse tão serio, seria hilariante. Não é preciso esforçarmo-nos muito para constatar que a canção descreve a mentalidade de muitas pessoas jovens hoje em dia. Mentalidade que acaba por valorizar a ignorância (It’s cool to know nothing) e desprezar a cultura e o conhecimento, concentrando a sua atenção em futilidades. Encontramo-los preocupados em seguir a moda ditada pela televisão, seguindo padrões definidos de um modo rígido, como que criando grupos de pessoas sem identidade própria a não ser protótipo fechado e acéfalo de determinado grupo. Pessoas a quem a escola diz muito pouco senão como meio de socializar ou de passar o tempo, que vivem para o presente e o futuro imediato, sem nenhum projecto de vida, e que vivem com uma ideia (que a escola a própria sociedade acabam muitas vezes por reforçar) de total desresponsabilização e completa impunidade perante a autoridade e a ordem social, esperando que tudo lhes seja conseguido sem terem que fazer muito por isso, nunca tendo de se preocupar com as consequências do que fazem. Pergunto-me que capacidade terão estas pessoas de um dia saírem do seu casulo e enfrentarem as responsabilidades de uma vida adulta, sem adoptarem um objectivo a longo prazo, e sem construírem a sua própria visão do mundo, tendo em mente algo mais que o aqui e o agora. E aobretudo sem que compreendam que os seus actos têm consequências e que no mundo real nada é adquirido sem esforço.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Reciclagem musical XXI

Esta 21ª reciclagem musical é a continuação da anterior, uma vez que escolhi mais uma canção do terceiro álbum dos britânicos Keane, Perfect Symmetry (2008), chamada Playing along, que, na minha opinião, descreve de um modo extraordinariamente preciso o estado de alienação em que as muitas pessoas acabam por se refugiar quando se deparam com uma realidade que as assusta e que tantas vezes foge à sua compreensão.

“Playing along”

At the start of the news day
The fires beginIn words and in pictures
But I'm not listening
I'm not taking it in

I'm going to go to the country
Where nothing goes on
Going to bury my head
Where I can't hear the sound of bombs
Playing along

Me, I'm just playing along
You and I, so many good people
All just playing along

I'm going to go to a bar
Where the jukebox is on
Going to shut out the noise
With a rock 'n' roll song
Playing along

I'm going to turn up the volume
I'm going to turn up the volume
I'm going to turn up the volume
Till I can't even think

Tell us a tale of the proud and the free
Sing us a swing time American melody
From “Follow The Fleet”

Me, I'm just playing along
You and I, a billion people
All just playing along

I'm going to turn up the volume
I'm going to turn up the volume
I'm going to turn up the volume
Till I can't even think

Todos os dias somos bombardeados com notícias do que se passa no mundo. Através da televisão entram nas nossas vidas as tragédias ocorridas por esse mundo fora, chegam-nos imagens de uma grande violência que nos impressionam, que nos assustam, que nos chocam profundamente. E encontram-se tão longe da nossa realidade que não nos parecem possíveis de ocorrer no mesmo que nos vamos vivendo calmamente o nosso dia-a-dia. Acabamos por vê-las um pouco como se de um filme ou de pesadelo animado se tratassem, desligamos do seu conteúdo, estamos demasiado longe (ou queremos acreditar que estamos) para tomarmos verdadeiramente consciência do quem significam do que realmente esta a acontecer algures e tudo o que isso possa implicar. Desligamos do mundo, refugiando-nos na nossa realidade protegida, ocupando a nossa mente com a realidade a nossa volta, tentando inconscientemente, criar ruído de fundo que abafe os nossos sentimentos, que nos proteja da angustia de algo que nos perturba, que tantas vezes nos soa irracional e absurdo, tanto quais absurdas nos soam as explicações destinadas a justificar o injustificável. E assim vamos vivendo, tantos de nós, centenas, milhares, milhões de boas pessoas, dia após dia, flutuando na corrente, deixando-nos levar, fechados na nossa concha, somos os piores cegos por não querermos ver o que nos é posto à frente todos os dias.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Reciclagem musical XX

Esta 20ª reciclagem é a mais recente até agora. No seguimento da 11ª e 15ª reciclagens musicais, e igualmente no seguimento da carreira dos britânicos Keane, escolhi uma canção do seu terceiro Álbum Perfect Symmetry, editado a 13 de Outubro de 2008, chamada igualmente Perfect Symmetry (tendo dado nome ao álbum por ser a favorita da banda).

“Perfect Symmetry”

I shake through the wreckage for signs of life
Scrolling through the paragraphs
Clicking through the photographs
I wish I could make sense of what we do
Burning down the capitals
The wisest of the animals

Who are you? What are you living for?
Tooth for tooth, maybe we’ll go one more
This life, is lived in perfect symmetry
What I do, that will be done to me

Read page after page of analysis
Looking for the final score
We’re no closer than we were before

Who are you? What are you fighting for?
Holy truth? Brother I choose this mortal life
Lived in perfect symmetry
What I do, that will be done to me

As the needle slips into the run-out groove
Love - maybe you’ll feel it too
And maybe you’ll find life is unkind
And over so soon
There is no golden gate
There’s no heaven waiting for you

Oh boy you ought to leave this town
Get out while you can the meter’s running down
The voices in the streets you love
Everything is better when you hear that sound

Spineless dreamers hide in churches
Pieces of pieces of rush hour buses
I dream in emails, worn-out phrases
Mile after mile of just empty pages
Wrap yourself around me

Wrap yourself around me
As the needle slips into the run-out groove
Maybe I’ll feel it too
Maybe you’ll feel it too
Maybe you’ll feel it too
Maybe you’ll feel it too
I dream in emails, worn out phrases
Mile after mile of just empty pages

Se pararmos para pensarmos um pouco no estado do mundo à nossa volta, facilmente constatamos a pertinência destas observações. Todos os dias no chegam noticias de vários focos de conflito no mundo, guerras que se prolongam no tempo durante anos ou mesmo décadas em ofensivas e contra-ofensivas sucessivas, das quais ninguém parece sair vencedor, mas cujos vencidos são muitos óbvios: todos aqueles que apenas estavam no local errado à hora errada são todos os dias vítimas destas escaladas de violência que assolam o mundo em que vivemos e que marcam a ferro e fogo tantos lugares em espirais de ódio e violência que se auto-alimentam. Não seremos nós, o mais sensato dos animais, capazes de algo melhor do que esta lógica destrutiva e irracional de olho por olho e dente por dente? A História recente e não se mostra animadora e as perspectivas para o futuro não são melhores. E para tal muito contribui a problemática do fanatismo religioso que se encontra tantas vezes associado a estes conflitos, levando as pessoas a cometer as maiores atrocidades em nome de alguma entidade divina tantas vezes à custa de vidas inocentes.

Reciclagem musical XIX

Para esta reciclagem musical eu escolhi uma canção da cantora inglesa Dido do seu segundo álbum, Life for rent, de 2003, chamada igualmente Life for rent, cuja letra é na minha opinião não só de uma grande beleza, como também apresenta uma visão muito particular acerca da vivência das pessoas.

"Life For Rent"

I haven't ever really found a place that I call home
I never stick around quite long enough to make it
I apologize that once again I'm not in love
But it's not as if I mind that your heart ain't exactly breaking
It's just a thought, only a thought

But if my life is for rent and I don't learn to buy
Well I deserve nothing more than I get
Cos nothing I have is truly mine

I've always thought that I would love to live by the sea
To travel the world alone and live more simply
I have no idea what's happened to that dream
Cos there's really nothing left here to stop me
It's just a thought, only a thought

But if my life is for rent and I don't learn to buy
Well I deserve nothing more than I get
Cos nothing I have is truly mineIf my life is for rent and I don't learn to buy
Well I deserve nothing more than I get
Cos nothing I have is truly mine

While my heart is a shield and I won't let it down
While I am so afraid to fail so I won't even try
Well how can I say I'm alive

If my life is for rent and I don't learn to buy
Well I deserve nothing more than I get
Cos nothing I have is truly mineIf my life is for rent and I don't learn to buy
Well I deserve nothing more than I get
Cos nothing I have is truly mine
Cos nothing I have is truly mine
Cos nothing I have is truly mine
Cos nothing I have is truly mine

Passamos pela vida quase sem nos apercebermos disso, vamos vivendo ao sabor da maré para o imediato, cumprindo o que nos é exigido em cada momento sem ter nenhum objectivo, nenhum sonho que guie a nossa vida, que nos faça lutar por algo a que pudéssemos chamar nosso. Vivemos em lugares que nada significam, porque nada fizemos por eles, não são o produto dos nossos sonhos ou da nossa luta, existem simplesmente, mas não nos pertencem por nada significarem para nós. Esquecemo-nos dos nossos sonhos algures no caminho, demasiado compenetrados talvez dos meios para os atingir, e quando os poderíamos de facto concretizar se constatamos que se tornaram completamente vazios de significado. Não nos atrevemos a sair da concha da rotina previsível e vazia das nossas vidas para tentar outros voos, tememos demasiado o fracasso para ousarmos procurar um novo significado para as nossas vidas, e deixamo-nos ficar, sobrevivemos em viver, vivemos como ela tão elegantemente diz, vida alugadas que não aprendemos a comprar.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Reciclagem musical XVIII

Um pouco na continuação da 16ª e 17ª reciclagens musicais, continuamos a seguir a carreira dos britânicos Muse, desta vez com uma canção do seu quarto álbum, Black Holes and Revelations de 2006. Este é um álbum muito interessante, com uma forte componente política e de intervenção. No entanto, a musica que eu escolhi é uma das poucas canções em aborda outros temas que não a realidade politica actual, não deixando por isso de ser uma curiosa reflexão sobre as relações humanas.

"Hoodoo"

Come into my life
Regress into a dream
We will hide
Build a new reality
Draw another picture
Of the life you could have had
Follow your instincts
And choose the other path

You should never be afraid
You're protected from trouble and pain
Why, why is this a crisis in your eyes again

Come to be
How did it come to be
Tied to a railroad
No love to set us free
Watch our souls fade away
Let our bodies crumble away
Don't be afraid
I will take the blow for you

And I've had recurring nightmares
That I was loved for who I am
And missed the opportunity
To be a better man

Penso que muitas pessoas gostariam de construir uma realidade privada, protegida da hostilidade do mundo exterior, onde tudo seria à medida dos nossos sonhos e tudo seria como gostariam que sua vida tivesse sido. Mas estas redomas de vidro em que tantos gostariam de se esconder não passam de abrigos temporários, de mundo idealizados nos quais não podemos viver. A realidade acaba mais cedo ou mais tarde por se impor em todo o seu terrível esplendor, e à medida vida acaba demasiadas vezes por não seguir o caminho sonhado, o maior se torna o choque entre a fantasia e a realidade. Tarefa árdua e ingrata é a daqueles que com a melhor das intenções tentar evitar ou diminuir esse choque que sentem terrível para a pessoa amada que tentam a todo custo proteger. Mas há acções na vida que não podem ser partir de outrem: têm de ser as próprias pessoas a encontrar o seu caminho no meio dos destroços dos sonhos perdidos e enfrentar o que vida lhes tiver para lhes mostrar. E no entanto sem que isso implique a solidão total, há sempre a hipótese de o caminho ser percorrido a dois, uma possibilidade de ir aparando os golpes do destino.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Decompondo o arco-iris

Em meados de Julho deste ano eu li um livro muito interessante chamado Decompondo o arco-íris da autoria do biólogo inglês Richard Dawkins. No entanto foram as primeiras linhas deste livro ficaram na minha memória. Rezava assim:

Vamos morrer e isso faz de nós uns felizardos. A maior parte das pessoas nunca irá morrer porque nunca chegará a nascer. O número de pessoas que podia estar aqui no meu lugar, mas que de facto nunca verá a luz do dia excede os grãos de areia do deserto da Arábia. Certamente esses fantasmas não nascidos incluem poetas mais sublimes do que Keats, cientistas mais notáveis que Newton. Sabemo-lo porque o conjunto de pessoas que existem e existiram constitui uma ínfima parte do que é permitido pelo nosso ADN. Contrariando estas probabilidades assombrosas, somos nós que na nossa normalidade, estamos aqui.” Richard Dawkins, Decompondo o arco-íris, capitulo 1

Todos vamos morrer um dia pelo simples facto de estarmos vivos. Essa é a única condição para morrermos. A morte é outra face da vida, tão indissociável dela como o dia o é da noite. E assim é para todos os organismos vivos. A evolução pode permitido que nos tornássemos mais complexos, que pudéssemos ter uma consciência diferente do mundo à nossa volta, mas somos construídos pelo mesmo que o é o mundo vivo e mesmo não-vivo à nossa volta. E no nosso lugar poderia estar hoje em dia alguém completamente diferente de nós apenas algo no passado tivesse sido ligeiramente diferente. Mas existimos, é um facto, somos nós que estamos aqui, e não qualquer outra pessoa. Não como resultado de uma desígnio predefinido, mas apenas resultado de uma longa cadeia de eventos favoráveis. Sem nenhum propósito ou intenção em particular, a nossa vida não tem em si nenhum sentido ou significado que não seja aquele que nós lhe atribuirmos, através do caminho que decidimos percorrer. Claro que somos limitados pelas circunstâncias, pela sociedade em que vivemos, pelas pessoas à nossa volta, pelo acaso, pelo tempo, pelo espaço. Mas há que sobra disso que nos compete a nos determinar o que fazer com volta da roleta russa da existência que nos permitiu estar aqui e agora e poder viver durante algumas décadas neste mundo. O único que temos ou iremos ter.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Keane no coliseu de Lisboa

Antes de mais,deixem-me dizer-vos que este é um assunto acerca do qual eu sou fortemente suspeita. Os keane são uma das minhas bandas de eleição e eu ansiava pela chegada do dia 12 de Novembro desde meados de Setembro, quando comprei o bilhete. Cheguei à rua do coliseu às 16h e 30 min e lá esperei até que as portas de abrissem, o que aconteceu às 20h e depois de uma breve a precipitada corrida, consegui ficar numa posição algo privilegiada, uma vez que só tinha duas pessoas entre mim e a grade e o palco devia estar a menos de 3 metros de onde eu me encontrava. A primeira parte foi bastante melhor do que eu esperava, A Rita Redshoes fez um bom trabalho, ela que não só canta muito bem, como as canções eram bonitas e conseguiram cativar alguma atenção dos espectadores ansiosos pela chegada da actuação principal da noite. Quando às 22h os keane entraram no palco, deu-se início a uma noite que pelo menos para mim foi inesquecível. O espectáculo abriu com o The lovers are losing e Better than this, dois temas do mais recente álbum Perfect symmetry, seguidos dos clássicos Everbody’s changing e Nothing in way way, voltando em seguida aos ritmos mais recentes com Again and again e You don’t see me. Em seguida This is the last time e um enérgico Spiralling (que Tom Chaplin introduziu dizendo: “I saw a poster saying “I’ve been waiting for this moment to come”, well, I think the moment has come for you”) encheram o coliseu. Depois seguiu-se um mini-concerto acústico. Tom Chaplin interpretou Bend and Break sozinho, tocando guitarra acústica, e depois a banda tocou versões acústicas de Try again e We might as well be strangers. Os novos ritmos voltaram You haven’t told me anything, seguido de A bad dream e Perfect symmetry que Tom anunciou como sendo na sua melhor composição até à data e como sendo uma canção de esperança, que após os acontecimentos recentes nos EUA (eleição de Barack Obama) soava especialmente adequada. Os clássicos voltaram em força com Somewhere only we konw (canção que deu nome a este blog) e um explosivo Crystal ball. A encore pedida pela audencia inclui uma musica de cada álbum comçando com Black burning heart, seguido de Is it any wonder? e terminando com Bedshaped (Reciclagem Musical XI). A despedida foi dita com as seguintes palavras do vocalista e guitarrista Tom chaplin “what more can I say, this means so much to us” e “we knew lisbon would be the final night in this tour and we also knew it would be the most celebratory” e dito isto pegou uma bandeira portuguesa que alguém no publicou lhe dera e pendurou-a no seu microfone antes de cantar a ultima canção da noite. A banda teve na mina opinião um boa actuação, com uma performance notável do grupo, e revelando que Tom Chaplin é um guitarrista competente. A banda mostrou ainda grande entusiasmo, com Tom a cantar frequentemente junto a borda do palco ou mesmo fora dele e junto ao publico, a audiência soube responder bem à dedicação deles cantando a plenos pulmões todas a canções tocadas como se fossem singles de sucesso. Eles prometeram voltar em breve. Eu espero que sim.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Reciclagem musical XVII

Esta reciclagem musical segue o percurso da banda de rock inglesa Muse, cujo álbum seguinte, Absolution (2003). Este álbum inclui algumas canções de amor (que apesar de tudo não são muito frequentes no registo musical deste grupo) incluindo uma canção chamada Falling away with you, que é na minha opinião particularmente bonita e que merece ser a primeira canção a amor na serie das reciclagens musicais.

"Falling Away With You"

I can't remember when it was good
moments of happiness elude
maybe I just misunderstood
all of the love we left behind
watching the flash backs intertwine
memories I will never find

so I'll love whatever you become
and forget the reckless things we've done
I think our lives have just begun
I think our lives have just begun

and I'll feel my world crumbling
I'll feel my life crumbling
I'll feel my soul crumbling away
and falling away
falling away with you

staying awake to chase a dream
tasting the air you're breathing in
I know I won't forget a thing
promise to hold you close and pray
watching the fantasies decay
nothing will ever stay the same
all of the love we threw away
all of the hopes we cherished fade
making the same mistakes again
making the same mistakes again

I can feel my world crumbling
I can feel my life crumbling
I can feel my soul crumbling away
and falling away
falling away with you

all of the love we've left behind
watching the flash backs intertwine
memories I will never find
memories I will never find

O amor e a nostalgia são uma combinação explosiva. Explosiva e algo intrigante. Quantos sonharam com uma vida ideal, percorrida em nome do amor que fez o seu mundo girar ao contrário, vivida tão só ele e para ele. Prometeram amar perante tudo, juraram nunca desistir do sonho, por mais que as circunstâncias e as pessoas mudassem. Mas o tempo passa implacavelmente, trazendo um outro mundo. Um mundo em que as ilusões se foram desfazendo, as esperança acalentadas nunca passaram disso mesmo. Em que o amor foi sendo deixado ao longo de um caminho cheio de curvas e obstáculos, repleto de decisões irreflectidas e erros repetidos uma e outra vez em que o amor era desbaratado à toa, até que dos sonhos e as ilusões de outrora só restassem ruínas. Quando olham para trás e a memoria se enche de imagens, perdidas algures entre o sonho a realidade, entre o que se idealizou e o que realmente aconteceu que acabou por ser tão diferente do mundo presente que as fantasias do passado quase parecem pertencer a um mundo que não é este em que vivemos. As memórias dos dias felizes escapam-se entre os dedos, se é que de facto esses dias alguma vez existiram. Mas apesar de tudo e ainda assim, agarram-se teimosamente ao que resta do que sonharam um dia, recusam-se a desistir, e dispõem-se a recomeçar a reconstruir e manter vivo o amor que marcou as suas vidas.

domingo, 26 de outubro de 2008

Reciclagem musical XVI

Esta 16ª reciclagem musical recua um pouco mais no tempo, até 2001, ano em os britânicos Muse lançaram o seu segundo álbum Origin of symmetry. Uma das canções deste álbum, chama-se citizen erased e tal como muitas outras deste grupo inglês (deste e de outros álbuns) tem bastante que se lhe diga.

"Citizen Erased"

Break me in,
Teach us to cheat
And to lie, cover up
What shouldn't be shared?
All the truth unwinding
Scraping away
At my mind
Please stop asking me to describe him

For one moment
I wish you'd hold your stage
With no feelings at all
Open minded
I'm sure I used to be so free

Self expressed, exhausting for all
To see and to be
What you want and what you need
The truth unwinding
Scraping away
At my mind
Please stop asking me to describe

For one moment
I wish you'd hold your stage
With no feelings at all
Open minded
I'm sure I used to be so free

For one moment
I wish you'd hold your stage
With no feelings at all
Open minded
I'm sure I used to be so free

Wash me away
Clean your body of me
Erase all the memories
They will only bring us pain
And I've seen all I'll ever need

Se pararmos um pouco para pensar, a vida vista de fora parece-se um pouco com um imenso baile de mascaras. Todas as pessoas acabam por se esconder por detrás de representações mais ou menos próximas de si mesmas, num teatro interminável e em constante mudança, onde nada pode ser dado como certo. Onde todos se escondem, onde todos parecem ser aquilo que não são, esforçam-se por ser aquilo que os outros esperam que eles sejam em cada momento. Mas neste teatro complexo e imprevisível é fácil sentirmo-nos perdidos, desejando que a peça pudesse parar por momentos, para podermos tentar compreender-lhe as regras, pudéssemos ver os verdadeiros rostos que se escondem atrás das máscaras, pudéssemos questionar o que acontece a nossa volta, sermos mais livres de seguir outros rumos. Por outro lado, tanto nos esforçamos por ser o que é esperado de nós, o que sentimos ser o que os outros precisam, esquecemo-nos de sermos simplesmente nós mesmos, acabamos por não conhecer verdadeiramente as pessoas à nossa volta, se construímos tudo com base se algo que acaba por não ser verdade, e quando esta vem ao de cima, tudo caí como uma castelo de cartas.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Manhãs

Hoje tive de madrugar. Saí de da casa pouco passava das 7h da manhã, ainda o céu era um tom azul-escuro carregado que lembrava muito mais a noite do que a manhã que se anunciava. Os candeeiros da rua, ainda acesos, só reforçavam essa imagem. À minha volta tudo parecia adormecido, as ruas desertas pareciam irreais, um palco vazio à espera que a peça da rotina diária se inicie com o seu ritmo próprio, enquanto saboreia os últimos instantes de paz. Por banais e insignificantes que pareçam, estes momentos de solidão tornam-se quase mágicos. Como se a tranquilidade à minha volta pudesse incorporar-se em mim, me permitisse estar só com os meus pensamentos, ter apenas a música por companhia, olhar pela janela e vez o céu a assumir um azul claro a cidade a despertar, dar inicio a mais um dia.

domingo, 28 de setembro de 2008

Reciclagem musical XV

Esta 15ª reciclagem é um pouco a continuação da 11ª, uma vez que se trata de mais uma canção dos britânicos Keane, chamada Broken Toy do seu segundo álbum Under the iron sea (2006), e desenvolve uma temática frequente nas suas canções, o desgaste das relações entre pessoas que são muito próximas há muito tempo.

"Broken Toy"

I think you know
Because it's old news
The people you love
Are hard to find
So I think if I
Were in your shoes
I would be kind

I look out for you
Come rain, come shine
What good does it do?
I guess I'm a toy that is broken
I guess we're just older now

I want to stay
Another season
See summer upon
This sorry land
So don't dust off your gun
Without a reason
You understand

I look out for you
Come rain, come shine
What good does it do?
I guess I'm a toy that is broken
I guess we're just older now

Who says the river can't leave its waters?
Who says you walk in a line?
Who says the city change its borders?
Who says you're mine?

I look out for you
Come rain, come shine
What good does it do?
I guess I'm a record you're tired of
I guess we're just older now
I guess I'm a toy that is broken
I guess we're just older now

É quase assustador como as pessoas tomam as outras como garantidas. Como partem do pressuposto de que as pessoas estarão sempre presentes, apenas pelo facto de sempre terem estado. Como se os outros não fossem mais do que um cenário vivo sem vontade própria, sempre a nossa disposição. E à medida que o tempo passa e as pessoas perdem a capacidade de nos surpreender, fazem a tanto tempo parte da nossa vida que já não sabemos (se alguma vez soubemos) como era a vida sem elas. E esquecemo-nos de lhe dar valor. Arrumamo-las no fundo do baú das recordações, dos dados adquiridos, e partimos em busca de algo mais entusiasmante noutras paragens, supondo que quando voltarmos (e sobretudo quando voltarmos magoados de uma viagem que correu especialmente mal) estarão lá tal como estavam à nossa espera como sempre estiveram. Mas as pessoas à nossa volta são mais do que parte do cenário: têm sentimentos próprios e não gostam de se sentir parte do cenário que são é chamado a acção para curar feridas alheias. E desistem de esperar, também elas podem partir em busca de algo novo. E muitas vezes só quando as tivermos perdido de vez, saberemos quando nos faziam falta.

domingo, 21 de setembro de 2008

Reciclagem musical XIV

Continuando no ano de 2007, escolhi para esta reciclagem musical uma canção dos Britânicos Kaiser Chiefs, do seu 2º álbum Yours Truly Angry Mob, chamada The Angry Mob. Este grupo tem abordado a temática da violência nos centros urbanos, quer neste álbum quer no ser precedente (Employment de 2005) e esta canção é um bom exemplo disso.

"The Angry Mob"

I can prove anything
I'll make you admit again and again
I can prove anything
The way that it's read again and again

And its only cos you came here with your brothers too
If you came here on your own you'd be dead
Its only cos you follow what the others do
Its no excuse to say your easily lead

You can choose anything
You choose to lose again and again
You could do anything
Why should you do anything again

And its only cos you came here with your brothers too
If you came here on your own you'd be dead
Winding yourself up until your turning blue
Repeating everything that you've read

And here we go with the letter
Well can you fix it for me
Cos we need entertainment
To keep us all off the streets
So tonight you'll sleep softly in your bed

You can try anything
And no-one would know apart from you and me
You can stop anything
It's starts with just one and turns to two then three

Its only cos you came here with your brothers too
If you came here on your own you'd be dead
Raise a glass or two
You raise a fist or two
Get a shopping basket wrapped round your head

So here we go with the letter
Oh can you fix it for me
The 24 hour drinking
To keep us all off the streets
So tonight you'll sleep softly in your bed

We are the angry mob
We read the papers everyday day
We like who like
We hate who we hate
But we're also easily swayed

Esta canção acaba do descrever com uma notável precisão o comportamento das multidões, ou desta multidão em particular a que ele se refere e que poderia simbolizar tantas outras. Onde as pessoas se deixam levar pelo comportamento dos outros, refugiando-se assim no anonimato que o colectivo lhes proporciona, como se procurassem o sentimento de pertencer a algum lado e a ocupação que de outro modo não teriam. Ao mesmo tempo que defendem ideias que não são suas, que de facto pouco importam e pouco valem e que são tão vazias de sentido e de significado que pouco restará delas no dia seguinte, quando a multidão se desfizer e a vida seguir o seu curso.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Reciclagem musical XIII

Continuando um pouco na linha destas reciclagens de músicas recentes escolhi uma canção dos norte-americanos The National, do ser álbum Boxer de 2007, intitulada Mistaken for strangers. Este grupo tem várias canções com letras bastante interessantes, nas quais adoptam um tom satírico acerca de vários aspectos da sociedade que são assim sujeitos a uma critica mais ou menos feroz.

Mistaken for strangers

You have to do it running but you do everything that they ask you to
cause you don’t mind seeing yourself in a picture
as long as you look faraway, as long as you look removed
showered and blue-blazered, fill yourself with quarters
showered and blue-blazered, fill yourself with quarters

You get mistaken for strangers by your own friends
when you pass them at night under the silvery, silvery citibank lights
arm in arm in arm and eyes and eyes glazing under
oh you wouldn’t want an angel watching over
surprise, surprise they wouldn’t wannna watch
another uninnocent, elegant fall into the unmagnificent lives of adults

Make up something to believe in your heart of hearts
so you have something to wear on your sleeve of sleeves
so you swear you just saw a feathery woman
carry a blindfolded man through the trees
showered and blue-blazered, fill yourself with quarters
showered and blue-blazered, fill yourself with quarters

You get mistaken for strangers by your own friends
when you pass them at night under the silvery, silvery citibank lights
arm in arm in arm and eyes and eyes glazing under
oh you wouldn’t want an angel watching over
surprise, surprise they wouldn’t wannna watch
another uninnocent, elegant fall into the unmagnificent lives of adults


Esta canção fala-nos num tom algo cruel, acerca do dilema de muitas pessoas: ao mesmo tempo querem e não querem ser vistas. Tal como não se importam de não ser que mais imagens de um fundo desfocado de uma fotografia, são parte de um cenário, imagens anónimas por entre as luzes e animação nocturna característica das grandes e movimentadas cidades, correndo sempre um de lado para outro, sem destino nem objectivo certo, acendo a sempre aos pedidos alheios, vivendo vidas tão apressadas quanto vazias de significado. Pessoas quem falta o sentido de identidade, já que ninguém de facto as conhece, são iguais e indistinguíveis de todas as outras que cruzam as ruas todos os dias. Pessoas essas que ao mesmo tempo sonham pela companhia que não sentem dos outros à sua vida, estando dispostas a acreditar em fantasias que as consolem ou distraiam da amarga solidão que pauta as suas vidas.

sábado, 6 de setembro de 2008

Fotografias - Postal II

Depois de algumas viagens em 2008, chegou a altura de mostrar mais uma pequena seleção de Fotografias dos lugares por onde eu passei este ano.








Pálacio de Schönbrunn, Viena, Austria








Vista do centro histórico de Salzburgo, Salzburgo, Austria










Parlamento Húngaro, Budapeste, Hungria

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Reciclagem musical XII

Se 11ª reciclagem tinha pouco de reciclagem, esta 12ª ainda o tem menos, já que esta canção é ainda mais recente, neste caso do início de 2005, e pertence ao álbum de estreia da banda Finlandesa Poets of the Fall, Signs of Life. Estes senhores não são poetas apenas nome, e esta Illusion and Dream é um bom exemplo disso.

Illusion and Dream

Look in my eyes
I'll make you see
We're drifting aimlessly
Blind in a world of make believe

Hear them sing their songs off key
N' nod like they agree
Buying the need to be discreet

I've got no hand in matters worldly,
I hardly care at all
What's going on fails to concern me,
Cos I'm locked behind my wall
But you know what drives me out
Out of my mind

It's whatever makes you see, makes you believe
And forget about the premonition you need to conceive
That the images they sell are illusion & dream
In other words dishonesty

If I speak Ill, please, humour me
Won't rant on endlessly
Just thought I'd try to make you see
It doesn't solve a thing to dress it in a pretty gown
A stone will not need you to guess if
You're still going to drown
So you know what drives me out
Out of my mind

It's whatever makes you see, makes you believe
And forget about the premonition you need to conceive
That the images they sell are illusion & dream
In other words dishonesty

So can you name your demon?
Understand its scheming
I raise my glass and say "here's to you"
Can you chase your demon?
Or will it take your freedom?
I raise my class and say "here's to you"

I've got no hand in matters worldly,
I hardly care at all
What's going on fails to concern me,
Cos I'm locked behind my wall
But you know what drives me out
Out of my mind

It's whatever makes you see, makes you believe
And forget about the premonition you need to conceive
That the images they sell are illusion & dream
In other words dishonesty
It's whatever makes you see, makes you believe
And forget about the premonition you need to conceive
That the images they sell are illusion & dream
In other words dishonesty

With Silence comes Peace
With Peace comes Freedom
With Freedom comes Silence


Apesar de podermos questionar o pessimismo desta canção, não deixa de dar que pensar se não acaba por aproximar a da verdade, pelo menos em alguns aspectos. Se muitas vezes o destino da humanidade não parece andar a deriva sem destino, como um barco perdido em dia de tempestade, e nós parecemos viver num mundo em que nada é realmente o que parece. E, no entanto acabamos por aceitar o que ouvimos dizer a nossa volta, por muito que não estejamos de acordo, apenas para não destoarmos do conjunto, para passarmos discretamente no meio da multidão e assim podermos viver a nossa vida em paz. E fechamo-nos na nossa concha, no nosso mundo e dos nossos pensamentos, mantendo a nossa visão crítica da realidade que ninguém parece levar muito a sério. No nosso mundo privado já existem demónios suficientes, que toldam o nosso juízo critico, no fundo a nossa liberdade. E no meio disto sentimo-nos bombardeados por imagens distorcidas, completamente ilusórias, cheias de um optimismo dificilmente justificável de uma realidade da qual acabamos por nos sentir longe.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Reciclagem musical XI

Esta 11ª reciclagem musical, tem na verdade muito pouco de reciclagem, já que esta música é relativamente recente. Bedshaped foi um dos singles do álbum de estreia da banda inglesa Keane, Hopes and Fears, de 2004.Esta banda aborda frequentemente temas como a solidão, o isolamento e o abandono, e Bedshaped é talvez um dos melhores exemplos disso. Esta canção doce e melancólica tem na minha opinião muito que se lhe diga e por isso mesmo é sobre ela esta reciclagem musical.

"Bedshaped"

Many's the time
I ran with you down
The rainy roads of our old town
Many the lives we lived in each day
And buried altogether

Don't laugh at me
Don't look away

You'll follow me back
With the sun in your eyes
And on your own
Bedshaped
And legs of stone
You'll knock on my door
And up we'll goIn white light
I don't think so
But what do I know?
What do I know?
I know!

I know you think I'm holding you down
And I've fallen by the wayside now
And I don't understand the same things as you
But I do

Don't laugh at me
Don't look away

You'll follow me back
With the sun in your eyes
And on your own
Bedshaped
And legs of stone
You'll knock on my door
And up we'll goIn white light
I don't think so
But what do I know?
What do I know?
I know!

And up we'll go
In white light
I don't think so
But what do I know?
What do I know?
I know!

Se existe sentimento que mais magoa a maior parte das pessoas é o de se sentirem abandonadas por alguém que em temos foi uma parte importante das suas vidas. Olharem para um passado risonho compartilhado perdido algures na memória distante, sabendo que as recordações de dias felizes que pertencem inevitavelmente ao passado. Porque o presente é bem diferente. Porque os seus caminhos se separaram e quando um dia se voltaram a juntar, nunca mais nada seria igual. Ao deixarem de ser uma companhia, passaram a ser um fardo indesejado, uma presença incómoda e algo desprezada, e deixam-se ficar para trás murmurando por uma oportunidade. Para serem olhados de frente, não encarados de lado e ou entre risos trocistas mal disfarçados. Para que alguém ouça o que têm a dizer. Desejando que tudo possa voltar a ser o que um dia foi, que o sol volte a brilhar nos seus olhos e que a estrada se estenda de novo a sua frente, a cada novo dia que nasce.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Reciclagem musical X

The Great Pretender era originalmente uma canção dos Platters de 1955, e teve desde então várias versões, sendo uma das mais famosas aquela que o vocalista dos Queen, Freddie Mercury editou em 1987.

The Great Pretender

Oh yes I'm the great pretender (ooh ooh ooh)
Pretending I'm doing well (ooh ooh ooh)
My need is suchI pretend too much
I'm lonely but no-one can tell

Oh yes I'm the great pretender (ooh ooh ooh)
Adrift in a world of my own (ooh ooh ooh)
I play the gameBut to my real shame
You've left me to dream all alone

Too real is this feeling of make (make believe) believe
Too real when I feel what my heart can't conceal

Oh oh, yes I'm the great pretender (ooh ooh ooh)
Just laughing and gay like a clown (ooh ooh ooh)
I seem to be what I'm not you see (ooh you see)
I'm wearing my heart like a clown
Pretend that you're still around
Yeah-eah, wooh hoo

Too real (real) when I feel (feel) what my heart can't conceal

Oh yes I'm the great pretender
Just laughing and gay like a clown (ooh ooh ooh)
I seem to be what I'm not you see
I'm wearing my heart like a clown
Pretend that you're
Pretend that you're still around

Muitos de nós, senão mesmo todos, mereceríamos de todo o titulo de “the great pretender”.Apesar do tom trocista e bem-disposto da canção ela relata uma situação bem real, e muito mais comum do que se poderia pensar, e que nada tem de agradável. Muitos de nós somos eternos actores sem palco, representando uma farsa no mínimo pouco edificante, acerca da nossa própria vida. Reinventamos uma vida que não é a nossa, vestimos uma mascara de uma felicidade que não sentimos e tentamos ao máximo ser convincentes. Não é certamente por acaso que se diz “procura a pessoa mais infeliz naquela que mais alegria espalha à sua volta”. Fingimos estar bem, engolimos o desgosto e tristeza em silêncio e ignoramos os nossos verdadeiros sentimentos. E no meio da multidão estamos terrivelmente sós, tão sós quanto sempre estivemos.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Filadelfia (1993)


Eu conheci este filme por mera coincidência. Vi-o uma vez na RTP há alguns meses e finalmente consegui comprá-lo em DVD. Realizado por Jonathan Demme em 1993, conta com a interpretação de dois grandes senhores do cinema Tom Hanks e Denzel Washington. Em traços gerais conta a história de um jovem e promissor advogado Andrew Beckett, que é despedido da firma de advogados onde trabalhava devido ao facto de ser homossexual e de ter SIDA. Decidido a fazer justiça, ele processa a empresa por discriminação e com a inicialmente relutante ajuda do homofónico e algo conservador advogado Joe Miller. À medida que advogado e cliente se vão conhecendo, Joe Miller vai mudando de opinião e acaba por reconhecer o valor do seu cliente Andrew Beckett, ao mesmo tempo que este é apoiado pela sua família e encorajado pelo namorado na luta pela sua dignidade. Este é ainda desafiado a enfrentar toda a uma série de mentiras e de tentativas de minar a sua credibilidade por parte da empresa que põem a prova a sua coragem para continuar a sua luta ao mesmo tempo que o seu estado de saúde se deteriora a passos largos. O processo chama ainda a atenção dos media e põe a nu os preconceitos da sociedade sobre a doença e sobre os indivíduos seropositivos. Este é um filme dramático e comovente sobre a homofobia e a discriminação dos indivíduos com SIDA numa das cidades mais prósperas dos EUA, no início dos anos 90, em que esta doença era rapidamente mortal e fortemente estigmatizada em termos sociais Esta é a história de um homem de uma grandeza invulgar e de um advogado que aceitou um desafio que mais ninguém teria aceite. No one would take on his case... until one man was willing to take on the system.

Algumas frases deste filme mostram isso particularmente bem e por isso aqui vão algumas citações do filme.

Judge Garrett: In this courtroom, Mr.Miller, justice is blind to matters of race, creed, colour, religion, and sexual orientation.
Joe Miller: With all due respect, your honour, we don't live in this courtroom, do we?

[Andrew transcendentally describes his favourite opera]
Andrew Beckett: Do you like opera?
Joe Miller: I'm not that familiar with opera.
Andrew Beckett: This is my favourite aria. This is Maria Callas. This is "Andrea Chenier", Umberto Giordano. This is Madeleine. She's saying how during the French Revolution, a mob set fire to her house, and her mother died... saving her. "Look, the place that cradled me is burning." Can you hear the heartache in her voice? Can you feel it, Joe? In come the strings, and it changes everything. The music fills with a hope, and that'll change again. Listen... listen..."I bring sorrow to those who love me." Oh, that single cello! "It was during this sorrow that love came to me." A voice filled with harmony. It says, "Live still, I am life. Heaven is in your eyes. Is everything around you just the blood and mud? I am divine. I am oblivion. I am the god... that comes down from the heavens, and makes of the Earth a heaven. I am love!... I am love."

Joe Miller: We're standing here in Philadelphia, the, uh, city of brotherly love, the birthplace of freedom, where the, uh, founding fathers authored the Declaration of Independence, and I don't recall that glorious document saying anything about all straight men are created equal. I believe it says all men are created equal.

Joe Miller: What do you love about the law, Andrew?
Andrew Beckett: I... many things... uh... uh... What I love the most about the law?
Joe Miller: Yeah.
Andrew Beckett: It's that every now and again - not often, but occasionally - you get to be a part of justice being done. That really is quite a thrill when that happens

Joe Miller: The Federal Vocational Rehabilitation Act of 1973 prohibits discrimination against otherwise qualified handicapped persons who are able to perform the duties required by their employment. Although the ruling did not address the specific issue of HIV and AIDS discrimination...
Andrew Beckett: Subsequent decisions have held that AIDS is protected as a handicap under law, not only because of the physical limitations it imposes, but because the prejudice surrounding AIDS exacts a social death which precede... which precedes the physical one.
Joe Miller: This is the essence of discrimination: formulating opinions about others not based on their individual merits, but rather on their membership in a group with assumed characteristics.

terça-feira, 18 de março de 2008

Reciclagem musical IX

Another day, editado em 1972, foi um dos primeiros singles de Paul McCartney na sua carreira a solo. Esta canção conta uma historia muito curiosa e que se aproxima provavelmente daquilo que é a vida diária de muitas pessoas.

Another day

“Every Day She Takes a Morning Bath
She Wets Her Hair,
Wraps A Towel Around Her
As She's Heading For The Bedroom Chair,
It's Just Another Day.
Slipping Into Stockings,
Stepping Into Shoes,
Dipping In The Pocket Of Her Raincoat.
Ah, It's Just Another Day.

At The Office Where The Papers Grow She Takes A Break,
Drinks Another Coffee
And She Finds It Hard To Stay Awake,

It's Just Another Day.
It's Just Another Day.
It's Just Another Day.

So Sad, So Sad,
Sometimes She Feels So Sad.
Alone In Her Apartment She'd Dwell,
Till The Man Of Her Dreams Comes To Break The Spell.

Ah, Stay, Don't Stand Around
And He Comes And He Stays
But He Leaves The Next Day,
So Sad.
Sometimes She Feels So Sad.

As She Posts Another Letter To The Sound Of Five,
People Gather 'Round Her
And She Finds It Hard To Stay Alive,

It's Just Another Day.
It's Just Another Day.
It's Just Another Day.

So Sad, So Sad,
Sometimes She Feels So Sad.
Alone In Her Apartment She'd Dwell,
Till The Man Of Her Dreams Comes To Break The Spell.

Ah, Stay, Don't Stand Around
And He Comes And He Stays
But He Leaves The Next Day,
So Sad.
Sometimes She Feels So Sad.

Every Day She Takes A Morning Bath She Wets Her Hair,
Wraps A Towel Around Her
As She's Heading For The Bedroom Chair,
It's Just Another Day.

Slipping Into Stockings,
Stepping Into Shoes,
Dipping In The Pockets Of Her Raincoat.

Ah, It's Just Another Day.
It's Just Another Day.
It's Just Another Day.”

Um dia igual a tantos outros que o precederam e igual a tantos outros que se lhe seguirão. Aos olhos de todos aqueles para quem os dia se sucedem sempre iguais e previsíveis, numa rotina monótona e opressiva, muitas vezes uma espécie de prisão auto imposta, um filme que se repete ao longo do tempo, dias que se transformam em meses, meses que se tornam anos, perdidos num deserto de memorias cinzentas como as nuvens de um dia de tempestade. Entristecemos. Sem saber muito bem porquê. Sabemos o que esperar, mas também sabemos o quanto gostaríamos de ser surpreendidos, de que por uma vez algo fosse diferente. Vamos sobrevivendo, repetindo maquinalmente os mesmos gestos, aprendidos há tanto tempo que se tornaram há muitos vazios do significado que poderiam um dia ter tido. Numa vida que é em si vazia, solitária, ou antes cheia de pessoas que passam mas não ficam, nada deixam atrás de si a não ser o mesmo sentimento de solidão instalada, a esperança de um futuro diferente mais longínquas a cada dia que passa.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Reciclagem musical VIII

Englishman in New York é um dos grandes sucessos do músico inglês Sting, do seu álbum de estreia Nothing Like The Sun de 1987. Apesar de referir especificamente a um famoso excêntrico inglês chamado Quentin Crisp que se mudara para Nova Iorque, com o objectivo de escapar a homofobia da sua terra natal, esta canção tem uma letra muito interessante que vale a pena ler com atenção.

Englishman in New York

I don't drink coffee I take tea my dear
I like my toast done on one side
And you can hear it in my accent when I talk
I'm an Englishman in New York

See me walking down Fifth Avenue
A walking cane here at my side
I take it everywhere I walk
I'm an Englishman in New York

I'm an alien
I'm a legal alien
I'm an Englishman in New York
I'm an alien
I'm a legal alien
I'm an Englishman in New York

If, "Manners maketh man" as someone said
Then he's the hero of the day
It takes a man to suffer ignorance and smile
Be yourself no matter what they say

I'm an alien
I'm a legal alien
I'm an Englishman in New York
I'm an alien
I'm a legal alien
I'm an Englishman in New York

Modesty, propriety can lead to notoriety
You could end up as the only one
Gentleness, sobriety are rare in this society
At night a candle's brighter than the sun

Takes more than combat gear to make a man
Takes more than a license for a gun
Confront your enemies, avoid them when you can
A gentleman will walk but never run

If, "Manners maketh man" as someone said
Then he's the hero of the day
It takes a man to suffer ignorance and smile
Be yourself no matter what they say

I'm an alien
I'm a legal alien
I'm an Englishman in New York
I'm an alien
I'm a legal alien
I'm an Englishman in New York

Na minha interpretação este poema foca dois temas interessantes. Por um lado, a intolerância e o isolamento social e por outro lado algumas das fragilidades e aspectos negativos da sociedade americana. Sobre o primeiro aspecto foca a incompreensão e o distanciamento entre uma pessoa e o mundo a sua volta que não o compreende nem respeita, mas que também não é compreendida. Há um certo corte relações entre as ambas as partes num diálogo se surdos de desprezo mutuo, em que apenas uma grande dose de estoicismo e alguma altivez permite conviver com a intolerância e a incompreensão a que são votadas injustamente muitas pessoas tendo para o sociedade o mesmo afastamento que esta tem dele. Lembrando um pouco as palavras do filosofo francês Albert Camus que definia o absurdo como a quebra de relações entre o ser humano e o mundo á sua volta devido as exigências racionais do primeiro a irracionalidade do segundo. Neste caso o mundo é mais tacanho do que propriamente irracional, incapaz de entender outras perspectivas que não caibam na sua estrutura rigidamente hierarquizada e organizada. O problema de todas as estruturas rígidas é serem limitativas. Nem todas as pessoas se sentem bem metidas em certos modelos predefinidos, e nem todos aceitam as normas impostas sem discussão. Tornam-se outsiders, olhados com mais ou menos desconfiança, mais ou menos alvo do preconceito geral, são um pouco com aliens num mundo que não sentem como seu. No segundo tema, dá que pensar em mentalidade americana (que chega até nos através das noticias todos os dias) e faz-me uma certa impressão todo o seu convencionalismo e rigidez moralista (parece importar mais a vida privada e a personalidade das pessoas do que a sua capacidade de executarem a tarefa a que se propõem) na sua obsessão pelas armas (é virtualmente possível ter um autentico arsenal de guerra em casa e aparentemente ninguém se preocupa com as eventuais consequências disso) e belicismo excessivo e muitas vezes despropositado e desproporcionado, cujas consequências estão bem à vista.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Reciclagem musical VII

The logical song, um dos sucessos da banda inglesa Supertramp do seu álbum Breakfast in America datado de 1979, é na minha opinião uma das canções mais curiosas que eu já ouvi e talvez por isso decidi fazer dela o tema da minha 7ª reciclagem musical.

The logical song

“When I was young, it seemed that life was so wonderful,
A miracle, oh it was beautiful, magical.
And all the birds in the trees, well they’d be singing so happily,
Joyfully, playfully watching me.

But then they send me away to teach me how to be sensible,
Logical, responsible, practical.
And they showed me a world where
I could be so dependable,
Clinical, intellectual, cynical.

There are times when all the worlds asleep,
The questions run too deepFor such a simple man.
Won’t you please, please tell me what we’ve learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am.

Now watch what you say or they’ll be calling you a radical,
Liberal, fanatical, criminal.
Won’t you sign up your name, wed like to feel you’re
Acceptable, respectable, presentable, a vegetable!

At night, when all the worlds asleep,
The questions run so deep
For such a simple man.
Won’t you please, please tell me what we’ve learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am.”


O patrono da minha escola secundária, o escritor Vergilio Ferreira escreveu “O que importa é o que fazemos do que fizeram de nós”. Embora eu, ao contrário do sujeito poético não partilhe a nostalgia da infância, penso que todos nos já nos perguntámos como lidar com aquilo que nos disseram que devíamos ser estando frente a frente com uma realidade que é totalmente o oposto do nosso mundo de fantasia infantil e pior, que espera que nós sejamos totalmente o oposto daquilo que nos ensinaram. Ficamos perdidos, sem saber quem somos, ou o que é esperado de nós, oscilando entre o que sentimos ser correcto e o que é considerado certo pela sociedade. Tornamo-nos seus escravos, apavorados pela sua hipocrisia, pela sua mentira dissimulada cheia de frases feitas politicamente correctas que todos deveríamos seguir se não queremos viver bem com todos à nossa volta e a expressão de opiniões e ideais próprios pode soar quase a algum de suspeito ou até mesmo criminoso. Vêm-me à memória a peça de Luís de Stau Monteiro, Felizmente há luar, que se Matilde se perguntava d que valia ser justo num mundo repleto de injustiça, de que servia ser honesto num mundo onde só os falsos vingavam. E por isso não é de espantar que tantos pensem quando todos dormem, sejamos assaltados por uma vaga de questões, começando sempre, mas quem sou eu afinal? Qual é o meu papel aqui?

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Reciclagem musical VI

Em 1972, o cantor norte-americano Don McLean editava no seu álbum American Pie, esta canção em homenagem ao pintor holandês Vincent van Gogh (1853-1901).Este pintor é hoje considerado um dos grandes génios da arte, contudo a sua vida foi pautada por uma série de adversidades, que incluíram a falta de aceitação que a sua obra teve. Esta canção é uma das minhas favoritas, e na minha opinião a sua letra é um dos mais belos poemas que eu já ouvi.

Vincent

Starry, starry night.
Paints your palette blue and grey,
Look out on a summer's day,
With eyes that know the darkness in my soul.
Shadows on the hills,
Sketch the trees and the daffodils,
Catch the breeze and the winter chills,
In colors on the snowy linen land.

Now I understand what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they did not know how.
Perhaps they'll listen now.

Starry, starry night.
Flaming flowers that brightly blaze,
Swirling clouds in violet haze,
Reflect in Vincent's eyes of china blue.
Colours changing hue, morning field of amber grain,
Weathered faces lined in pain,
Are soothed beneath the artist's loving hand.

Now I understand what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they did not know how.
Perhaps they'll listen now.
For they could not love you,
But still your love was true.
And when no hope was left in sight
On that starry, starry night,
You took your life, as lovers often do.
But I could have told you, Vincent,
This world was never meant for one
As beautiful as you.

Starry, starry night.
Portraits hung in empty halls,
Frameless heads on nameless walls,
With eyes that watch the world and can't forget.
Like the strangers that you've met,
The ragged men in the ragged clothes,
The silver thorn of a bloody rose,
Lie crushed and broken on the virgin snow.

Now I think I know what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they're not listening still.
Perhaps they never will...

A Historia está recheada de casos como este. Um dos grandes problemas das sociedades humanas foi e é a total incapacidade de entender e respeitar a diferença. Muitas pessoas são olhadas de lado por ousarem pensar e viver de outras formas e não se limitarem a cumprir o que era esperado delas. Apressamo-nos a rotular essas pessoas de inadaptadas, anti-sociais e desprezamo-las sem que nos passe pela cabeça ouvir o que tem para dizer ou dar valor às suas iniciativas e quando o fazemos (se o fazemos) com demasiada frequência já é demasiado tarde.