quinta-feira, 5 de julho de 2007
Mais contradiçóes da sociedade actual
Não sei bem por que motivo, mas hoje lembrei-me de uma das apresentações de medicina preventiva o ano passado sobre a gravidez tardia. A partir daí vieram-me à mente as frases habituais sobre a reduzida taxa de natalidade em Portugal e na Europa em geral, que associada ao aumento da esperança média de vida, é considerada a causa do envelhecimento das populações. Surpreenderam-me na altura as reacções da maioria dos meus colegas de turma em relação a esta situação. Ou melhor: surpreendeu-me a sua ingenuidade. Os factos são claros: a maioria das pessoas tem cada vez menos filhos e cada vez mais tarde, como todos os riscos que tal decisão acarreta. As causas deste fenómeno estão na minha opinião relacionadas de modo estreito com a realidade laboral de muitas pessoas e da qual muitos dos meus colegas me pareceram estranhamente pouco conhecedores. Apesar de teoricamente ser ilegal fazê-lo, a verdade é que as trabalhadoras grávidas são frequentemente despedidas e em geral as mulheres com encargos familiares acabam por não ser muito bem aceites nas empresas. Afinal o mundo em que globalizaram os mercados antes das culturas trouxe a muitos quadros técnicos de muitas empresas uma exigência imensa que abalou a sua vida: simplesmente têm demasiadas solicitações relativamente ao tempo que de dispõem para as cumprir. Se juntarmos ainda o facto de as licenças de parto serem ainda ridiculamente curtas e as despesas de criar uma criança pesarem no orçamento da maioria das famílias, não é de espantar que muitos casais pensem duas vezes antes de ter um filho, sobretudo sabendo que muitos pais gostariam de dar aos filhos as oportunidades que eles próprios não tiveram. Por isso me surpreende que tantas vozes se ergam para condenar o facto de os filhos serem adiados para cada vez mais tarde, e serem cada vez em menor número: trata-se apenas uma consequência e um reflexo do mundo em que vivemos.
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