Na 2ª feira passada a minha professora de anatomia contou-nos a sua triste experiência ao passar a noite de natal nas urgências. Dizia algo que me chocou profundamente e ainda assim não me espanta totalmente: nessa noite a minha professora viu bastantes idosos serem literalmente abandonados pelas famílias no hospital e eram tantos que não havia sequer macas, cobertores e almofadas para todos, e segundo a minha professora tudo o que ela lhes podia dar eram bolachas e leite quente. Sinceramente tenho dificuldade em imaginar tal situação. Além de me entristecer profundamente leva-me a pensar em dois assuntos que se podem relacionar com esta situação dramática. O primeiro é a situação dos idosos na nossa sociedade. O segundo é o modo como é encarado o natal.
De todas as fases da nossa vida é necessariamente no início e no fim desta que somos mais vulneráveis. E contudo é frequente vermos como as vidas de milhares de idosos no nosso país são marcadas pela solidão, pela tristeza, dificuldades económicas acentuadas e uma sensação de abandono pelas suas famílias, que só contribuem para agravar estados de saúde que seriam à partida debilitados. Basta vermos os lares de idosos, como aquele que visitei em introdução à medicina o ano passado e me marcou profundamente, sobretudo pela sensação que me deixava: todas aquelas pessoas pareciam ter morrido por dentro há muito vivendo apenas biologicamente, completamente alheias a tudo.
O natal tem-se transformado numa espécie de vertigem consumista que parece fazer maravilhas pelo estado do comercio (nestas alturas eu pergunto-me sempre se a tão falada crise sempre existe) mas duvido que as faça pela nossa consciência: apesar de muitas iniciativas de tornar a noite de natal algo de especial na vida de quem mais precisa, eu pergunto-me se o natal nos fará parar para pensar nos que estão mais perto de nós naqueles que fazem parte das nossas e de quem tantas vezes nos esquecemos na vertigem da rotina diária.
quinta-feira, 5 de julho de 2007
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