domingo, 30 de dezembro de 2007

Antologia cinematográfica de 2006 e 2007

Continuando com os balanços de final de ano, hoje decidi fazer uma lista de todos os filmes que vi em 2006 e 2007. Estes anos apesar de tudo o que tive de estudar foram produtivo em termos de cinema, muito embora 2006 tenha sido largamente melhor que 2007. Vi bastantes filmes que gostei muito, quer no cinema quer em DVDs que com comprei, alguns porque me fizeram rir outros porque me fizeram pensar. Claro que me vou propositadamente “esquecer” de alguns filmes que vi, por achar que não merecem referencia nesta antologia. Aqui vai então a antologia cinematográfica de 2006-2007.

2006

Match Point (Match Point): (5 estrelas)

Memórias de uma gueixa (Memoirs of a gueisha): (4 estrelas)

O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain): (5 estrelas)

Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice): (4 estrelas)

Casanova (Casanova): (3 estrelas)

Munique (Munich): (5 estrelas)

O Código Da Vinci (The Da Vinci Code): (3 estrelas).

A casa da Lagoa (The Lake House): (3 estrelas)

A Brisa da mudança (The wind that shakes the barley): (4 estrelas)

Candy (Candy): (2,5 estrelas)

A Dália Negra (The Black Dahlia): (4,5 estrelas)

O Diabo Veste Prada (The devil wears Prada): (2,5 estrelas).

O amor não tira férias (The Holiday): (2,5 estrelas)

O Perfume – A historia de um assassino (The Perfum – The story a of murderer): (4 estrelas)

North Country – Terra Fria (North Country) : (4,5 estrelas)

O Terceiro Passo (The Prestige): (4 estrelas)

2007

Soocp (Scoop): (4 estrelas)

Entre Inimigos (The departed): (3,5 estrelas)

O Bom Pastor (The good shepherd): (3,5 estrelas)

O Véu Pintado (The painted veil): (3 estrelas)

Homem aranha 3 (Spiderman 3): (2,5 estrelas)

Zodíaco (Zodiac): (4,5 estrelas)

O Mistério da estrada de Sintra (O Mistério da estrada de Sintra): (3 estrelas)

Shrek, o terceiro (Shrek, the third): (2,5 estrelas)

Harry Potter e a ordem da Fénix (Harry Potter and the order of the phoenix): (2,5 estrelas)

Stardust, O mistério da estrela cadente (Stardust): (3 estrelas)

Ratatui (Ratatouille): (4 estrelas)

Ultimato (The Bourne Ultimatum): (4 estrelas)

A juventude de Jane (Becoming jane): (4 estrelas)

Peões em jogo (Lions for lambs): (4,5 estrelas)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Antologia literária de 2007

Não é novidade para ninguém que eu gosto muito de ler.Todos os anos passo por vários autores e estilos literários e junto mais livros à minha biblioteca familiar (infelizmente com o inevitaveis rombos nas minhas finanças, mas hoje não me parece a ocasião indicada para discutir o preços dos livros). Agora que 2007 está próximo do fim, vou perder uns minutinhos hoje a relembrar os 25 livros que li este ano e postá-los aqui para quem esteja a precisar de sugestoes literárias.

Allan Mallinson: O cavaleiro

Colleen McCullough: Um passo à frente

Juliet Marillier: O espelho negro

Bernard Cornwell: Sharpe e o cerco de Badajoz

Marion Zimmer Bradley: Salto Mortal

Juliet Marillier: A espada de Fortriu

Jack Holland: Misogyny :The world's oldest prejudice

Jane Austen: Persuasão

Arturo Pérez-Reverte: O Capitão Alatriste

Raymond Chandler: Os chantagistas não matam/Assassino à chuva

Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão: O mistério da estrada de Sintra

Arturo Pérez-Reverte: Limpeza de Sangue

C. J. Sansom: Fogo negro

Stephenie Meyer: New Moon

Marion Zimmer Bradley: The forest house

Soeiro Pereira Gomes : Esteiros

Colleen McCullough: A casa dos anjos

Raymond Chandler: Tiroteio Cerrado/A montanha da morte

Bernard Cornwell: Sharpe's enemy

Oscar Wilde: De profundis

Colleen McCullough: O toque de midas

Bernard Cornwell: Shape's Fury

Eça de Queiroz: O crime do padre Amaro

Richard Dawkins: A desilusão de Deus

C. J. Sansom:Sovereign

sábado, 1 de dezembro de 2007

Dia mundial de luta conta a Sida

Hoje, dia 1 de Dezembro é o dia mundial da luta conta a SIDA e portanto a data indicada para pensar um pouco sobre a epidemia da infecção por VIH/SIDA em todo o mundo e no nosso país em particular. Estima-se que existam cerca de 36 milhões de infectados em todo o mundo e morram 4 pessoas por minuto devido a esta doença. Portugal é o país da EU com mais casos de infecção por VIH e pensa-se que surjam mais 6 casos por dia. A sida é uma doença de que todos já ouviram falar mas sobre a qual abundam os mitos e as ideias incorrectas sobretudo acerca dos modos de transmissão da doença. Segundo dados da comissão europeia uma larga percentagem dos europeus não sabem ou têm ideias incorrectas sobre a transmissão do VIH que aliás é bastante simples: sexual, parentérica, e materno-fetal. Outro dos mitos é que esta é uma doença se grupos específicos: homossexuais, prostitutas, toxicodependentes, etc. Não se podia estar mais longe da realidade, a Sida não escolhe sexo, idade, estatuto socio-económico. Todos nós somos possíveis alvos para este vírus, a Sida é transversal à sociedade. Não existem nenhum fosso entre “eles” e “nós” nem é algo que só acontece a alguns, como muitos gostam de pensar. Do mesmo modo que é fácil marcar os seropositivos como um rótulo de pessoas indesejáveis e a excluir da sociedade, esquecendo-nos que são pessoas como nós que podem e devem ter uma vida normal sem serem olhados de lado. Casos como o do cozinheiro que foi despedido por alegadamente ser um perigo para os utentes e tal ter sido confirmado pelo tribunal, é não só uma afirmação totalmente incorrecta do ponto de vista cientifico, como é uma injustiça gritante, um incentivo a à discriminação e à propagação de informações erróneas (além de demonstrar a ignorância e a arrogância do nosso sistema de justiça, que provavelmente merece a reputação que tem). O grande aliado da Sida é a ignorância, e se não podemos curar a Sida podemos fazer muito mais por preveni-la, não nos esquecendo que ela é uma realidade de todos e não apenas de alguns, que está ao nosso alcance evitar o contagio com medidas simples como o uso do preservativo e evitando a partilha de seringas entre os utilizados de drogas injectáveis. Há muita coisa a fazer no nosso país, há que desfazer tabus, desmistificar a doença e abandonar muitos preconceitos, e espalhar a informação correcta sobre prevenção. Isso está ao nosso alcance e pode vir a fazer a diferença.

domingo, 18 de novembro de 2007

A juventude de Jane (Becoming jane)


Por vezes há acasos felizes. Num sábado de Outubro fui ao cinema e acabei por ver este filme (de que eu nunca tinha ouvido falar) meramente por acaso. Este filme retrata a vida da escritora inglesa Jane Austen que viveu na transição ente o século XVIII e o século XIX. Mas este filme é muito mais um retrato da sociedade em que Jane Austen viveu do que uma simples biografia. Mostra-nos as circunstancias da sociedade rural inglesa das famílias da classe média que conviviam com uma situação financeira muitas vezes precária e que para as quais um bom casamento era para muitas raparigas a única alternativa a uma vida de trabalho árduo e assombrada pela ameaça da pobreza.
As obras de Jane Austen caracterizam-se não só por mostrarem a vida deste estrato social, como também por terem finais felizes em que as protagonistas acabam por melhorar a sua condição social e casarem que o homem que escolheram. Este filme mostram-nos como ela escreveu sobre o sonho e viveu com a realidade. Conta-nos a sua própria historia quando ela se apaixona por um brilhante e irreverente aspirante a advogado filho de uma família pobre e numerosa, sujeito aos caprichos de um tio excêntrico e ganancioso para poder ajudar a família a sair da miséria.
Este filme, além da sua beleza cenográfica, é um visão sincera e comovente das condições de vida de um determinado estrato social numa determinada época, e de um conflito entre os sentimentos das pessoas e as circunstancias em que estas relações se desenvolviam e como ao contrario dos romances que a imortalizariam as circunstancias da vida acabam por separar este casal apesar de tudo o que os pudesse unir.
Mostra também o amadurecimento intelectual da jovem Jane Austen e da sua luta pelo reconhecimento intelectual numa sociedade que era hostil às mulheres escritoras e também como ela foi capaz de moldar o seu próprio destino e desafiar todas as convenções ao tornar-se economicamente independente e dedicar a sua vida à escrita.

domingo, 28 de outubro de 2007

Gregor Mendel (1822-1884)


Inspirada pelas aulas de genética hoje resolvi dedicar este post ao pai da genética, Gergor Mendel. Mendel nasceu no império Austro-húngaro, na actual República Checa. Estudou física e matemática na Universidade de Viena e era monge no mosteiro de S. Tomás em Brno (hoje a segunda cidade da República Checa). Este mosteiro tinha de particular o facto de muitos dos seus monges de dedicarem ao ensino e à investigação cientifica e seguindo esta tradição Mendel passou vários anos a estudar ervilhas e o modo como determinadas características eram transmitidas às gerações seguintes. Mendel efectuou o seu estudo de um modo extremamente metódico e rigoroso usando os seus vastos conhecimentos de matemática e botânica, e dos seus estudos surgiram as duas leis de Mendel que ainda hoje são leis fundamentais da hereditariedade, aquela que estuda a passagem de determinado gene à descendência, chamada em sua homenagem hereditariedade mendeliana. A sua primeira lei, a lei da segregação e diz que durante a formação de gâmetas cada par de alelos separa-se e apenas um deles entra da constituição genética desse gâmeta, e essa separação ocorre ao acaso. A segunda lei de Mendel ou lei da segregação independente, diz que a separação de cada um dos pares de alelos ocorre de modo independente, ou seja a separação de um par de alelos não influencia a separação dos restantes. Mendel foi o primeiro a utilizar as designações dominante, descrevendo a alelos em que basta a existencia de uma copia para se manifestarem,e recessivo descrevendo alelos em que são necessarias as duas copias para que este se manifeste. Também a ele se devem as designações homozigótico (aqueles cujos dois alelos do mesmo par são idênticos) e heterozigótico (aqueles cujo par de alelos é formado por dois alelos diferentes). O reconhecimento das suas descobertas durante a sua vida foi bastante limitada e Mendel desiludido decidiu dedicar-se ao mosteiro, chegando a ser abade do mesmo. A importância das descobertas de Mendel só foi reconhecida no início do século XX. (Fontes consultadas: A Breve Historia de Quase Tudo; Human Genetics: Concepts and applications)

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Fotografias - Postal

Este post vai ser dedicado a uma pequena selecção de fotografias que eu tirei em 2006 e 2007 que eu penso que são imagens representativas de vários lugares por onde eu passei e que considero que merecem uma visita. Espero que vos inspire!




Vista do Miradouro de Penacova, Penacova, Portugal






Ponte Velha, Florença, Itália








Catedral e Torre de Pisa, Pisa, Itália







Canal do Principe, Amesterdão, Holanda







Margens do rio Spree, Berlim, Alemanha






Vista do rio Elba sobre o centro histórico da cidade, Dresden, Alemanha








Vista do castelo de Praga a partir do rio Moldávia, Praga, Republica Checa

domingo, 16 de setembro de 2007

Ratatui


Aqui há dias fui ver ao cinema um filme muito saboroso. Não tanto pelo facto se passar em grande parte num cozinha onde se preparam iguarias, mas sim pelo facto de ter na sua história algo de tão doce que se poderia quase saborear. Este filme conta-nos a história de Remy, uma rato apaixonado pela culinária que consegue juntamente com Liguini, um rapazinho das limpezas, revolucionar a alta-cozinha parisiense. Com a magia que os filmes da dysney às vezes têm mostra-nos de um modo delicioso o poder do sonho. Mostra-nos como o candidato, que à primeira vista é o mais desadequado para uma tarefa, pode ser de facto o mais indicado para ela. Afinal nem tudo o que parece é, temos de ver para além do óbvio para descobrir e aceitar a verdade, e muitos não estão dispostos a fazê-lo. Remy é além de um sonhador é além com muita coragem para enfrentar um mundo hostil, e muita determinação em conseguir o que quer, mesmo com aparentemente tudo contra ele. Mas é antes de mais uma grande história de amizade, solidariedade e compromisso entre um rato e um rapaz desajeitado que trabalham juntos por um objectivo comum e acabam por construir algo muito mais sólido do que se poderia esperar. Recheado de momentos hilariantes e de uma historia tocante, para crianças e para adultos, que nos convida a não desistirmos dos nossos sonhos e que por mais altos que pareçam os obstáculos no caminho é possível reescrevermos o destino que foi escrito para nós.

Reciclagem musical V


Existem canções a que é difícil ficar indiferente. Entre elas, na minha opinião contam-se dois dos últimos grandes êxitos dos Queen, as canções “Innuendo” e “The show must go on” do álbum “Innuendo”, publicado em 1991, a escassos meses da morte de do seu vocalista Freddie Mercury.


While the sun hangs in the sky and the desert has sand
While the waves crash in the sea and meet the land
While there's a wind and the stars and the rainbow
Till the mountains crumble into the plain

Oh yes we'll keep on trying
Tread that fine line
Oh we'll keep on trying yeah
Just passing our time

While we live according to race, colour or creed
While we rule by blind madness and pure greed
Our lives dictated by tradition, superstition, false religion
Through the aeons, and on and on

Oh yes we'll keep on trying
We'll tread that fine line
Oh oh we'll keep on trying
Till the end of time,
Till the end of time

Through the sorrow all through our splendour
Don't take offence at my innuendo

You can be anything you want to be
Just turn yourself into anything you think that you could ever be
Be free with your tempo be free be free
Surrender your ego be free be free to yourself

If there's a God or any kind of justice under the sky
If there's a point if there's a reason to live or die
If there's an answer to the questions we feel bound to ask
Show yourself - destroy our fears - release your mask

Oh yes, we'll keep on trying
Hey, tread that fine line
Yeah we'll keep on smiling yeah (yeah yeah)
And whatever will be, will be
We'll keep on trying,
We'll just keep on trying
Till the end of time, till the end of time
Till the end of time


Esta canção acaba por fazer uma certa critica a muitos dos vícios da humanidade. Porque desde que o mundo existe tal como o conhecemos, a injustiça, o preconceito, a ganância e a ignorância pautam e destroem a vida de tantos seres humanos. Lembra-nos de todo o sofrimento causado pela mesquinhez e intolerância de tantos que resistiu a todas as revoluções e é transversal a todas as culturas e sociedades. Ao mesmo tempo transmite-nos uma grande mensagem de esperança, incita todos que vivam à sua maneira, sigam o seu próprio ritmo e persigam os seus sonhos. E termina de um modo grandioso perguntando-se o que todos os seres humanos se perguntam desde tempos imemoriais, se existem algo mais do que aquilo que podemos ver, se há alguma lógica por detrás de tudo o que acontece. Mas mais do que tudo isso diz que todos temos de continuar, de tentar tornar este mundo um lugar melhor e todos temos de enfrentar o futuro de frente, atrevermo-nos a sermos nós próprios sem nos deixarmos dominar pelo medo e sem nos escondermos por detrás de máscaras.


Empty spaces, what are we waiting for
Abandoned places, I guess we know the score
On and on, does anybody know what we are looking for
Another hero, another mindless crime
Behind the curtain in the pantomime
Hold the line, does anybody want to take it anymore

The show must go on,
The show must go on
Inside my heart is breaking
My make-up may be flaking, but my smile... still stays on

Whatever happens I'll leave it all to chance
Another heartache, another failed romance
On and on, does anybody know what we are living for
I guess I'm learning (I'm learning) I must be warmer now
I'll soon be turning (turning, turning) round the corner now
Outside the dawn is breaking
But inside in the dark
I'm aching to be free
The show must go on, the show must go on, yeah
Oooh, inside my heart is breaking
My make-up may be flaking, but my smile... still stays on
Yeah oh, oh, oh
My soul is painted like the wings of butterflies
Fairy tales of yesterday will grow but never die
I can fly, my friends The show must go on, yeah yeah

The show must go on, go on, go on
I'll face it with a grin
I'm never giving in, on with the show

I'll top the bill,
I'll overkill
I have to find the will to carry on
On with the, on with the show

The show must go on, go on, go on...

Quantas vezes a vida não parece uma sucessão de becos sem saída, em que caminhamos sem saibamos realmente para onde vamos, onde tudo parece encenado num teatro de uma peça absurda onde nada faz sentido. Entre o fracasso e a desilusão tantas vezes sonhamos que uma nova alvorada traga uma nova oportunidade. Mas apesar de tudo isso, quer o queiramos quer não, a vida segue sempre o seu curso implacável, não espera que nos curemos dos nossos desgostos e estejamos prontos para seguir em frente. Esse é o nosso desafio: o que arranjar a determinação para nunca desistir, para continuar sempre, para que o nosso espectáculo nunca pare, porque ele continuará sem nós, se nos não continuarmos com ele.

sábado, 18 de agosto de 2007

Reciclagem musical IV


Continuando a ideia dos posts anteriores, escolhi para comentar hoje uma canção chamada She's leaving home, do album Sergeant Peppers lonely hearts club band, considerado unanimemente a obra-prima dos Beatles. Apesar de ter sido publicada em 1967 (e aproveito a ocasião para prestar homenagem aos 40 anos deste álbum) trata na minha opinião de um tema extremamente actual, que são as relações familiares, nomeadamente a relação entre pais e filhos.


"Wednesday morning at five o'clock as the day begins
Silently closing her bedroom door
Leaving the note that she hoped would say more
She goes downstairs to the kitchen clutching her handkerchief
Quietly turning the backdoor key
Stepping outside she is free.
She (we gave her most of our lives)
Is leaving (sacrificed most of our lives)
Home (we gave her everything money could buy)
She's leaving home after living alone
For so many years. (bye, bye)

Father snores as his wife gets into her dressing gown
Picks up the letter that's lying there
Standing alone at the top of the stairs
She breaks down and cries to her husband
Daddy our baby's gone!
Why would she treat us so thoughtlessly?
How could she do this to me?
She (we never though of ourselves)
Is leaving (never a thought for ourselves)
Home (we struggled hard all our lives to get by)
She's leaving home after living alone
For so many years. (bye, bye)

Friday morning at nine o'clock she is far away
Waiting to keep the appointment she made
Meeting a man from the motor trade.
She (what did we do that was wrong?)
Is having (we didn't know it was wrong)
Fun (fun is the one thing that money can't buy)
Something inside that was always denied
For so many years.
She's leaving home bye, bye. "

De todas as canções dos Beatles, esta foi provavelmente aqula que mais me marcou. Partindo de um trocadilho entre os verbos “to leave” (partir) e “to live” (viver) conta-nos a história de uma rapariga que se sentia totalmente só e por isso resolveu sair de casa para grande desespero dos seus pais. Ela toma esta decisão porque na sua casa ninguém parecia minimamente preocupado com o seu bem-estar ou com os seus sentimentos. Apesar do simbolismo hippie que possa ser atribuído a esta canção, os casos de crianças e jovens cujas vidas familiares deixam muito a desejar não deixam de ser um tema pertinente hoje, tal como certamente o seriam em 1967. Quando ouvimos falar em abandono pensamos no sentido literal do termo, mas o abandono também pode ser psicológico, se os pais são seres permanentemente ausentes, com quem os filhos não conseguem manter qualquer tipo de proximidade. A educação, afinal de contas, não é apenas uma questão de dinheiro: a atenção, o carinho e o respeito mútuo não estão à venda. E não é tão raro como se possa pensar vermos muitos pais que se limitam a comprar os filhos, muitas vezes movidos por sentimentos de culpa de não lhes darem atenção que gostariam (até porque muitas vezes não o conseguem pelas mais variadas razões, ninguém disse que educar um filhos era uma tarefa fácil) e que compram aos filhos tudo o que eles pedem, deixando-se manipular totalmente pelos caprichos dos filhos e sendo incapazes de lhes incutir quaisquer valores. Ou então têm uma relação de tal modo fria com os filhos (muitas vezes com as melhores intenções e sem noção nenhuma das consequências) que estes são estranhos na suas própria casa, a família só o é no papel, não no verdadeiro sentido do termo. Sobretudo porque o afecto e atenção deveriam estar acima de tudo, afinal há coisas que o dinheiro não compra e há muita coisa que não se vê mas que faz muita falta, e cujo valor não deve nunca ser menosprezado.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Reciclagem musical III


Continuando a ideia do post anterior, a minha busca por canções interessantes dos Beatles levou-me ao seu álbum Revolver de 1966 e à balada Eleanor Rigby.

“Ah, look at all the lonely people
Ah, look at all the lonely people

Eleanor Rigby picks up the rice in the church where a wedding has been
Lives in a dream
Waits at the window,
wearing the face that she keeps in a jar by the door
Who is it for?

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

Father Mackenzie writing the words of a sermon that no one will hear
No one comes near.
Look at him working.
Darning his socks in the night when there's nobody there
What does he care?

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

Eleanor Rigby died in the church and was buried along with her name
Nobody came
Father Mackenzie wiping the dirt from his hands as he walks from the grave
No one was saved

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

Embora esta canção também se refira ao alheamento do mundo, ela fala-nos um pouco de outra dimensão do problema: a solidão. Existem hoje, tal como certamente existiam em 1966, muitas pessoas cujas vidas são pautadas pela mais completa solidão, pessoas que simplesmente não têm ninguém a seu lado com quem possam compartilhar o que quer que seja nas suas vidas. Vivem em silencio, apenas quebrado pelo ruído de fundo da televisão, tantas vezes única janela para o mundo. Pessoas que não existem aos olhos da sociedade, como se já não fizessem parte deste mundo (será que alguma vez o terão feito?), existindo apenas porque vivem, ou antes sobrevivem, um dia depois do outro. De entre todos aqueles a quem esta descrição se poderia aplicar, um caso que eu considero particularmente grave e especialmente chocante é a solidão em que vivem muitas pessoas idosas. Passam todos os dias sozinhas sem companhia da família (que quantas vezes não tem tempo ou disponibilidade mental para lhes dar a atenção devida) como que esperando a morte, já que muitas vezes parecem já ter morrido por dentro há muito. Lembro-me de uma senhora que estava internada no Hospital de Santa Maria a quem eu fui distribuir presentes de natal e que nos disse que não valeria a pena ir passar o natal a casa, simplesmente porque não estaria lá ninguém. Eu penso em todos os que passam o natal (e os demais dias do ano) em casas vazia de pessoas e de afecto (na empty house is not a home cantavam os Keane em Atlantic) e vêm-me a memoria os versos “Ah, look at all the lonely people!” até porque talvez seja tempo de abrirmos os olhos para esta triste realidade e fazermos alguma coisa por estas pessoas a fim de que elas possam ter algum lugar a que possam chamar seu.

domingo, 12 de agosto de 2007

Reciclagem musical II


Continuando o processo de retirar do armário as musicas que o meu pai tanto gostava e me ensinou a gostar, vim a deparar-me com algumas coisas curiosas. Uma delas é esta canção dos Beatles de 1965 chamada Nowhere man.

“He's a real nowhere man,
Sitting in his nowhere land,
Making all his nowhere plans
For nobody.

Doesn't have a point of view,
Knows not where he's going to,
Isn't he a bit like you and me?

Nowhere man, please listen,
You don't know what you're missing,
Nowhere man, the world is at your command.

He's as blind as he can be,
Just sees what he wants to see,
Nowhere man can you see me at all?

Nowhere man, don't worry,
Take your time, don't hurry,
Leave it all till somebody else
Lend you a hand.

Doesn't kave a point of view,
Knows not where he's going to,
Isn't he a bit like you and me?

He's a real nowhere man,
Sitting in his nowhere land,
Making all his nowhere plans
For nobody. “

Não deixa de dar que pensar se muitos de nós, não partilhamos mais ou menos conscientemente este tipo de atitude. Pode parecer estranho que uma canção publicada há 42 anos tenha alguma verosimilhança na actualidade, mas se pensarmos com algumas calma talvez não seja tão absurdo como à primeira vista o poderia parecer. Muitos de nós, talvez muitos mais do que nos atreveríamos a supor vivem no estado de alheamento quase total, como que anestesiados de tudo o que acontece à sua volta, até porque essa pode ser a maneira mais cómoda de viver. Como os mesmos Beatles cantavam em 1967 em Strawberry Fields Forever "living is easy with eyes closed, misunderstanding all you see". Quantas vezes no meio de mil preocupações constantes com a vida diária (casa, emprego, família etc.) a nossa disponibilidade mental para outro assunto para além do nosso pequeno mundo virtualmente desaparece, não queremos saber de nada, nem de onde viemos e muito menos para onde vamos. Somos voluntariamente os piores cegos, porque nos recusamos a ver até mesmo o que se passa debaixo do nosso nariz porque a nossa cabeça está tão cheia, que somos alheios a tudo, como se não vivêssemos neste mundo. Não queremos saber de nada, não pensamos nada sobre nada (pensaremos de todo alguma coisa?) e acabamos talvez por perder uma grande oportunidade de fazer alguma coisa pelo mundo e também por nós mesmos.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Viver e deixar viver

Hoje dediquei-me a interromper o meu estudo para me dedicar a pensar e a escrever sobre algo que me tem vindo a deixar apreensiva: a maneira como lidamos com outras filosofias de vida que não a nossa. Ocorrem-me de tempos a tempos, sobretudo em dias mais tristes, pedaços de frase soltas ouvidas ou lidas algures, palavras e ecoam na minha memória, e que me deram que pensar geralmente não pelos melhores motivos. Frases em que fui surpreendida pela arrogância e pelo elitismo mais ou menos assumido que me rodeava. Considerando-se vencedores dignos e meritórios, censuram impiedosamente quem não se regeu pelos mesmos parâmetros, e não teve os mesmos objectivos.
Fez-me pensar o quanto é fácil para eles julgar todos os outros, considerá-los à partida e por definição um fracasso, nem que seja a fim de mostrarem aos outros (e sobretudo talvez a si próprios) as suas conquistas e virtudes. Este discurso com as suas muitas variações tem a capacidade de me enfurecer e mais tarde de me entristecer, por lamentar sobretudo a visão limitada e limitativa que têm da vida e da sociedade onde a vivemos. Talvez também seja mais fácil julgar a vida dos outros do que compreender que existem outras maneiras de ver a mesma realidade, que certamente não serão menos legitimas. Talvez mais elementar ainda: entender que a vida de cada um pertence a esse individuo e em ultima analise ele tem o direito de decidir o que fazer dela (desde que cumpra as regras em que a sociedade se baseia, ou seja desde que cumpra a lei) e as suas decisões podem e devem merecer o nosso respeito, concordemos com elas ou não. Dito de outra maneira, muitos de nós, senão mesmo todos nós, devemos aprender a viver e deixar viver.
A tolerância, o simples respeito pelos outros, pelos quais tantos lutaram e ainda hoje muitos lutam, é talvez a maior das utopias, mas talvez seja também a chave para um mundo mais justo. Quando finalmente soubermos (sabê-lo-emos algum dia?) deixar o pensamento mesquinho e egoísta, sairmos do nosso confortável casulo e virmos o mundo real com a finalidade de compreender e não de julgar (afinal quem somos nós para o fazermos, quem nos deu tal direito?) tornar-nos-emos mais humanos, mais abertos, mais capazes apreciar a diversidade natural e necessária dos seres humanos.
Talvez muitos daqueles que são tão rápidos a declarar a mediocridade alheia, devessem pensar se não serão eles próprios tão medíocres como aqueles que criticam do alto do seu pedestal de egocentrismo e inconsciência.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Poesias

Eu nunca fui boa aluna a Português. A poesia que inundava os programas de Português B tornava-se facilmente para mim algo que roçava o transcendental, uma espécie de linguagem cifrada sem código fácil. Claro que seria tremendamente injusto dizer que entras todas essas obras eu não gostei de nenhuma: nada disso eu gostei bastante de várias, simplesmente estava longe ser para mim fácil interpretá-las. Contudo não foi apenas nas aula de português da minha escola secundária que eu conheci a poesia que provavelmente mais gostei até hoje. Esse poema estava no meu livro de moral do 8º ano e eu nunca mais o esqueci: Intitulava-se A Pedra Filosofal.
“Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
que em verde e ouro se agitam
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,base, fuste, capitel.
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança.,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,para-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem,
nem sonham,que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avançacomo bola colorida
entre a mãos de uma criança.”
(António Gedeão)
Ainda hoje não sei bem explicar o motivo do fascínio que este poema sempre exerceu sobre mim. Talvez seja por nos mostrar o poder dos sonhos num mundo que em grande parte se esqueceu de sonhar. Vivemos num mundo de consumo desenfreado, mas de grande exigência. Vivemos a correr, num mundo que não se pode dar ao luxo de parar. Nem sequer para pensar, e muito menos para sonhar, ambicionar ou desejar verdadeiramente alguma coisa. Num turbilhão de ruídos e tarefas foi-se a paz e a calma necessárias a aspirar algo mais que viver um dia a atrás do outro, que quase sempre significam tão pouco e que nos deixam cansados e sem forças, hipnotizados pelo mundo que nos chega através de um ecran para o qual tantas vezes olhamos sem ver. Mas a vida não é apenas essa sobrevivência difícil, essa luta continua em que acabamos por desperdiçar muita da nossa vida, porque assim nos é exigido. Quando podemos finalmente parar existe um outro mundo a nossa espera, apenas nosso. Olhar para dentro e perguntarmo-nos o que realmente importa o que realmente queremos deste mundo o que podemos fazer por nós e por ele. Podemos construir a nossa vida, ganhar outra consciência do que se passa a nossa volta. Em suma: sonhar possibilita-nos ser verdadeiramente humanos. Talvez essa seja a chave para o dia de amanhã seja menos cinzento.

E voltando ao eterno tema do cinema…

Eu gosto muito de ver filmes. Quando vou ao cinema ver um filme que escolhi (já fui contrariada alguma vezes, e como seria de esperar detestei os filmes que vi) geralmente espero uma de duas situações: ou ver um filme agradável que me entretenha e me deixe bem-disposta ou então, e mais frequentemente, ver um filme que conte uma história que me faça pensar e me transmita uma mensagem. Alguns dos meus filmes de eleição tiveram em mim um impacto tão forte, que mesmo já os tendo visto há anos, continuam tão vividos na minha memória comos e os tivesse visto ontem. Contudo eu, como qualquer pessoa, interpreto aquilo que vejo à minha maneira, segundo a minha visão da realidade. Porque duas pessoas que vêm o mesmo filme dificilmente vêm, de facto, a mesmo filme e interpretam-no de modos geralmente muito distintos. Eu já desisti há muito de tentar colocar os filmes em gavetas, limito-me a classificá-los da maneira mais simples, primária e despretensiosa possível: existem filmes que eu gosto e outros que eu não gosto. Classificação, alias amplamente utilizada por mim, não só para filmes como para música, livros ou qualquer forma de arte. Não sou particularmente apreciadora de atribuir rótulos a todo o género de obra, uma vez que se trata de simplificações da realidade e que são por isso sempre muitíssimo mais pobres do que aquilo a que se reportam. Afinal se todos vemos algo de diferente em tudo, o que importa é o que vemos significa para nós. E isso depende apenas de cada um de nós.

Viagens

O meu professor de História do 8º e 9º ano costumava dizer-nos que se podia aprender estudando ou viajando. Se durante algum tempo mantive um certo cepticismo relativamente ao que se pode aprender a viajar, hoje reconheço que ele tinha toda a razão. Embora eu só viaje quando o calendário e o orçamento o permitem, esses poucos dias encontram-se entre os melhores da minha vida. Cada vez que percorro de máquina fotográfica ao ombro um cenário até então desconhecido e vejo o que me rodeia, eu ganho uma nova consciência do mundo. Ao longo dos últimos cinco anos eu visitei várias cidades europeias, em diferentes países e com dimensões muito diferentes. No entanto e ao contrario do que eu esperava muitas delas têm mais em comum entre si do que seria de esperar. Quando se nos lembrassem que nelas se vive como em tantos outros lugares do mundo, formando uma espécie de comunidade invisível e indefinida em cada um delas é especial à sua própria maneira, tem a sua identidade, o seu cartão de visita, que a torna única e igual somente a si própria. Se já vi e fotografei nas minhas viagens muitas pequenas e grandes maravilhas, também me fui apercebendo que as cidades tinham o seu lado negro, de um modo surpreendentemente igual ao da minha cidade natal. As grandes metrópoles europeias tornaram-se grandes centros de emigração, às quais chegam novas pessoas todos os anos, atraídas pelo seu ambiente activo e prospero, em busca de uma vida melhor do que aquela que lhes era acessível na sua terra natal. Muitos são provenientes dos países africanos, fugindo à guerra e à pobreza, muitas vezes ilegalmente e correndo riscos quase inimagináveis para muitos de nós. Muitos outros vêm da Europa de Leste muitas vezes também ilegalmente, tornando-se alvos de redes de tráfico humano, cuja actividade criminosa é difícil de combater. No entanto, os emigrantes tornam-se um problema para os países de acolhimento, dada a sua integração incompleta ou inexistente, às suas condições de vida frequentemente difíceis, tornando-se fontes de tensão social, frequentemente associados a criminalidade e à marginalização. A emigração na união europeia é um problema complexo, sem solução fácil à vista. Tratar-se-á se algo com que os dirigentes políticos e com que a própria sociedade terá de lidar o melhor que for possível para o bem de todos. Mas isso será uma tarefa gigantesca e o primeiro motivo disso é de uma simplicidade quase chocante. As correntes migratórias de hoje, bem como foram as de ontem e serão as de amanhã não são mais que o espelho das assimetrias do mundo, resultando do simples facto de uns terem muito e de muitos outros não terem quase nada.

Lugares

Todos nós passamos a nossa vida em diferentes espaços. Alguns apenas de passagem que nada significam para nós, outros locais de passeio dos quais guardamos imagens na memoria ou nos álbuns de fotografias, outros ainda lugares onde passamos e grande parte da nossa vida, e que se encontram cheios das nossas recordações de dias ali passados.
Entre os lugares que mais recordações me trazem encontram-se, por motivos não muito difíceis de descortinar, as escolas por onde eu passei. Recordações vagas e difusas de anos mais longínquos, recordações dolorosas de uma nitidez dilacerante, e recordações felizes que me fazem sorrir a distância. Cenários que eu revejo mentalmente de cada vez que me dedico a pensar no meu passado próximo e distante. Lembro-me de pormenores insignificantes que outrora fizeram parte dos meus dias: como eram as cadeiras e as mesas, como era o refeitório, o recreio etc. A certa altura deixo de reparar naquilo que sei que me espera todos os dias segura que tudo estará na mesma todos os dias se repetem com os meus caminhos, que se tornam tão familiares que os poderia fazer de olhos fechados. Cenários que podiam ser tristes mas que fazem lembrar de coisas felizes, e outros que deveriam ter sido felizes mas onde eu nunca mais quero voltar por guardarem demasiadas más recordações, outros onde eu fui feliz e infeliz em tempos diferentes e que me são estranhamente indiferentes. Cenários que tantas vezes parecem repetir-se com o bolero em subtis transformações de um mesmo tema em que tudo muda sem contudo nunca mudar.
A rotina é, sem duvida um instrumento poderoso: repete-se constantemente, previsível, em dias que se sucedem iguais, mais cinzentos se chove ou se estou triste ou alguém à minha volta o está, menos cinzentos se está sol ou se alguém sorri. As pessoas à minha volta transformam o cenário em que eu vivo, ou constroem-no tornando-o feliz ou deprimente, afinal o um lar só o é quando abriga as nossas recordações (“an empty house is not a home”) e só nos é familiar aquilo que transporta consigo o seu significado. Cada vez que entro em sítios onde por um dia me senti feliz sinto-me em casa. Afinal penso que descobri o que é pertencer a algum lugar

Reciclagem musical

Durante os últimos tempos dediquei-me a organizar as músicas que os meus pais costumavam ouvir quando eu era criança e inclui-las nas minhas playlists electrónicas. Por entre essas canções recordei-me de uma de que eu gostava particularmente chamada The sound of silence do Simon and Garfunkel que o meu pai tanto gosta. Esta é a letra dessa canção:

“Hello darkness, my old friend,
I've come to talk with you again,
Because a vision softly creeping,
Left its seeds while I was sleeping,
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence.
In restless dreams
I walked alone
Narrow streets of cobblestone,
Beneath the halo of a street lamp,
I turned my collar to the cold and damp
When my eyes were stabbed by the flash of
a neon light
That split the night
And touched the sound of silence.
And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more.
People talking without speaking,
People hearing without listening,
People writing songs that voices never share
And no one dared
Disturb the sound of silence.
"Fools" said I, "You do not know
Silence like a cancer grows.
Hear my words that I might teach you,
Take my arms that I might reach you."
But my words like silent raindrops fell,
And echoed
In the wells of silence
And the people bowed and prayed
To the neon god they made.
And the sign flashed out its warning,
In the words that it was forming.
And the signs said,
T he words of the prophets
are written on the subway walls
And tenement halls.
And whispered in the sounds of silence.”

Esta canção tinha e tem para mim um grande significado. Apesar de já ter sido escrita há algumas décadas remete-nos para algo extremamente próximo: a solidão urbana. Vivemos no reino do silêncio, do vazio das palavras humanas. Estamos sozinhos num mundo barulhento, frívolo, solitário e egoísta, em que se vive para o imediato, em que depressão se tornou quase banal. As luzes de néon são nesta canção o símbolo desse mundo, em que vivemos, muitas vezes indiferentes a tudo. Conforta-me que existam canções assim, com as quais podemos aprender a pensar a ganhar outra consciência do mundo, e talvez assim possamos mudá-lo.

Mais contradiçóes da sociedade actual

Não sei bem por que motivo, mas hoje lembrei-me de uma das apresentações de medicina preventiva o ano passado sobre a gravidez tardia. A partir daí vieram-me à mente as frases habituais sobre a reduzida taxa de natalidade em Portugal e na Europa em geral, que associada ao aumento da esperança média de vida, é considerada a causa do envelhecimento das populações. Surpreenderam-me na altura as reacções da maioria dos meus colegas de turma em relação a esta situação. Ou melhor: surpreendeu-me a sua ingenuidade. Os factos são claros: a maioria das pessoas tem cada vez menos filhos e cada vez mais tarde, como todos os riscos que tal decisão acarreta. As causas deste fenómeno estão na minha opinião relacionadas de modo estreito com a realidade laboral de muitas pessoas e da qual muitos dos meus colegas me pareceram estranhamente pouco conhecedores. Apesar de teoricamente ser ilegal fazê-lo, a verdade é que as trabalhadoras grávidas são frequentemente despedidas e em geral as mulheres com encargos familiares acabam por não ser muito bem aceites nas empresas. Afinal o mundo em que globalizaram os mercados antes das culturas trouxe a muitos quadros técnicos de muitas empresas uma exigência imensa que abalou a sua vida: simplesmente têm demasiadas solicitações relativamente ao tempo que de dispõem para as cumprir. Se juntarmos ainda o facto de as licenças de parto serem ainda ridiculamente curtas e as despesas de criar uma criança pesarem no orçamento da maioria das famílias, não é de espantar que muitos casais pensem duas vezes antes de ter um filho, sobretudo sabendo que muitos pais gostariam de dar aos filhos as oportunidades que eles próprios não tiveram. Por isso me surpreende que tantas vozes se ergam para condenar o facto de os filhos serem adiados para cada vez mais tarde, e serem cada vez em menor número: trata-se apenas uma consequência e um reflexo do mundo em que vivemos.

Viagem de todos os dias

Todos os dias a rotina se repete. Saio de casa por volta das 9, mais cedo ou mais tarde conforme foi maior ou menor a preguiça. Dirijo-me para a paragem do autocarro e fico ali à espera que ele chegue. Vou ouvindo música e olhando para o relógio, quando me lembrei de o pôr, até aparecer o meu autocarro. Abstraio-me da realidade à minha volta: das crianças da escola de primária com as suas brincadeiras ruidosas, do cheiro a pão quente da pastelaria de Carnide, dos carros que passam demasiado depressa como se quisessem evitar a todo o custo o semáforo vermelho ao fundo da rua. Quando finalmente entro no autocarro, tento sentar-me à janela e vou vendo a paisagem. Ou alias: olho mas não vejo. Não preciso aliás de olhar com atenção. A paisagem repete-se todos os dias, como que para me assegurar que este é um dia igual a tantos outros antes dele e tantos outros que aí virão. De certo modo, esta viagem traz-me uma certa paz. Dá-me a ilusão de ordem, de ritmo próprio da vida à minha volta. Afasta-me de tudo o que virá a seguir que precisará de toda a minha atenção. Finalmente acabo por chegar ao meu destino. O autocarro pára à porta do hospital, onde eu poderia entrar de olhos fechados que não me perderia. Eu percorro os corredores de modo automático até finalmente chegar ao Edifício Egas Moniz. Procuro quase instintivamente por alguém conhecido, chega a ser estranho como um sorriso amigável de um dos meus colegas pode fazer milagres pela minha disposição matinal. E começa mais um dia...

Televisão

A televisão esta longe de exercer grande fascínio sobre mim. A programação raramente atrai, e quando o tal acontece, os horários obscenos a que são transmitidos muitos dos programas que me poderiam interessar em nada melhoram a minha opinião. Na maioria dos dias limito-me a desligar a “caixinha mágica” e procurar algo melhor para me entreter, mas há alturas em que sucumbo a preguiça e não resisto ao tradicional zapping, sobretudo dos canais de música. Mas o que vejo não me agrada: a maioria dos videoclips parecem ser a interminável cópia de um modelo aparentemente bem sucedido (ou não seria copiado) e são de uma tal falta de originalidade que um observador distraído teria dificuldade em distingui-los. Mas essa realidade esconde algo de bem mais assustador acerca da cultura pop, que me faz acordar da minha letargia mental e me põe a pensar. Os vídeos são as repetições dos estereótipos que marcam a moda e a sociedade, oscilando entre um sexismo descarado, e um materialismo degradante, sublinhado pela falta de conteúdo das canções que em tudo fazem apelo a uma estupidificação massiva. A MTV portuguesa (a única que conheço) tornou-se um poderoso instrumento de deseducação, se me é permitido o uso de semelhante expressão. Um apelo invisível mas constante à superficialidade, ao culto da aparência. A televisão é, todos o sabemos, um meio de comunicação privilegiado. Mas que uso estamos a dar aos meios que a tecnologia nos põe ao nosso dispor?

Os melhores portugueses

Se existem programas de televisão que me deixam algo estupefacta, bom certamente que “os melhores portugueses” é um deles. A ideia de seleccionar e hierarquizar as pessoas que seriam os “melhores portugueses”. Mas o que são ou é suposto serem os “grandes portugueses”? Se já uma questão como a melhor canção seria suficientemente ambígua, então como abarcar toda a diversidade existente na nossa historia sob um critério de uniformidade, e tentando estabelecer uma hierarquia? Se nada existe de comparável, então como estabelecer o que se considera mais relevante? Seria um pouco como tentar comprar uma torradeira com um aspirador e decidir qual o mais importante. No mínimo, de uma lógica duvidosa. Contudo existe ainda outra questão: o que se considera meritório na acção humana. Existe todo um espectro de obras marcantes para a sociedade, dentro do contexto temporal e espacial a que se adequam. Não se pensa hoje da mesma maneira que se pensava noutras épocas e essas e as circunstancias marcam as prioridades próprias de cada época. Mas não só o tempo condiciona a acção, também as possibilidades de acção de cada um. Afinal muitos anónimos podem ter feito muito pelo seu pequeno mundo, sem estarem destinados a ser recordados nas páginas da História. E afinal quem somos nós para julgar a humanidade da qual fazemos parte mas cuja natureza estamos ainda tão longe de entender?

Dia internacional da mulher

Hoje, dia 8 de Março de 2007, é dia internacional da mulher. Muitos perguntar-se-ão certamente da utilidade da existência de um dia dedicado somente às mulheres. Na minha opinião, tem como objectivo fazer-nos pensar sobre a igualdade, tantas vezes meramente teórica, entre homens e mulheres. Existe algo de paradoxal nesta questão: todos os estudos mostram claramente que as mulheres são melhores alunas, constituindo cerca de 60% dos estudantes do ensino superior, e apesar disso têm mais dificuldades de emprego e raramente atingem cargos de direcção. Em grande parte, esta situação deve-se a sobrecarga devida aos encargos familiares que continua a recair maioritariamente sobre as mulheres e as prejudica relativamente aos seus colegas de trabalho. Apesar de a legislação o proibir, muitas mulheres perdem o emprego ao terem filhos e mesmo quando tal não acontece estão sujeitas muitas vezes a uma rotina desgastante causada pela sobrecarga de solicitações de que são alvo. Convêm ainda recordar que a violência doméstica é ainda uma realidade no nosso país, da qual as mulheres são as principais vitimas. Vivem muitas vezes um longo pesadelo em silêncio, devido à falta de ajuda ou mesmo de alternativas, sobretudo devido a dependência económica dos maridos. Talvez a minha perspectiva se oriente muito por aquilo a que alguns chamarão feminismo, mas eu penso que há ainda muito a mudar na mentalidade das pessoas e da organização da própria sociedade para que a igualdade passe do papel para a realidade.

Sinistralidade Rodoviária

Não o é, mas bem que poderia ser apelidada de a epidemia do século XXI. E devido ao simples facto de ceifar muitas vidas por ano, especialmente nestas alturas no Natal e do Ano Novo. Acidentes trágicos enchem as páginas dos jornais e as notícias do telejornal e são apenas a ponta do icebergue de uma realidade assustadora. Todos os dias se morre nas estradas deste país. Por culpa de muitos factores, dos quais acaba por sobressair sempre causas humanas. Não são as estradas nem os veículos que causam a maioria dos acidentes mas sim quem os conduz. Não sei se a melhoria dos carros contribui para isso, mas muitos condutores parecem esquecer-se das limitações físicas que ainda se impõem à condução, nomeadamente que quanto mais depressa de se vai, de mais espaço se precisa para travar. Já para não falar dos desrespeito pela sinalização e sobretudo pela ingenuidade com que muitos levam os efeitos do álcool na condução. Por mais campanhas que se façam nada parece mudar realmente. Todos os anos, esta triste situação se repete, talvez devido a mentalidade do “só acontece aos outros”. Mas não é assim, e nenhum de nós que ande por aí na estrada está livre de se ver envolto numa destas situações. Por isso, talvez fosse boa ideia pensar nisso antes de infringir o código da estrada (afinal ele existe por algum motivo).

Pai Natal no Hospital de Santa Maria

No dia de 23 de Dezembro, transformei-me em pai natal por uma manhã e fui distribuir presentes ao hospital que alberga a minha faculdade e constitui para mim um universo imenso e desconhecido. Mas poder-se-ia perguntar o que me levou a acordar cedo num manhã gelada, vestir a minha bata e percorrer corredores e quartos com um sorriso e presentes embrulhados para distribuir. Não me vou dar a devaneios sobre a necessidade de humanização do ambiente hospitalar, as minhas razões eram bem mais pragmáticas: fi-lo para ter uma ideia mais clara do que virá a ser a minha vida daqui a não muitos anos. Não posso dizer que me arrependa. As situações que se me depararam variaram imenso desde pessoas adormecidas e como tal totalmente ausentes da realidade, pessoas que não falam ou não são capazes de manter um discurso lógico e coerente, até pessoas perfeitamente lúcidas e conscientes, que falaram comigo e com as minhas colegas e que me conseguiram surpreender com muito do que disseram. Levávamos os presentes que podíamos, nem sempre muito adequados às circunstâncias, apesar disso muito sorriam e afirmavam gostar do que lhes dávamos, enquanto outros diziam ter de nos dar algo em troca, apesar da nossa negação veemente. Alguns marcaram-me particularmente: um senhor por volta dos 60 anos no serviço de neurocirurgia que apesar da enorme costura na cabeça, me sorria ao disco que entreguei me disse gostar bastante, cujas maneiras educadas e límpidos olhos azuis me ficaram na memória. Um senhora que me agradeceu a carteira que lhe dei, dizendo que melhoraria de essa fosse a vontade de Deus, e quando assenti me perguntou se era religiosa. Respondi que não e ela afirmou-me que não importava, que se tratava do mesmo. Disse que todos os deuses eram um mesmo com nomes diferentes, ao que ela concordou, acrescentando que ela pediria ao seu e eu pediria ao meu, que certamente eram um só. Não pude deixar de pensar como estava certa. Todos damos significados diferentes a uma mesma realidade que é simultaneamente a nossa e a de todos nós. Claro que nem tudo foram acontecimentos felizes. Conhecemos uma senhora que todos os anos passava o Natal sozinha e iria para casa no dia seguinte e não tinha lá ninguém que lhe abrisse a porta. A solidão é talvez o que mais atormenta muita gente, mais corrosiva que muitas doenças, destrói as pessoas por dentro, ao retirar-lhes a razão de viver. Para mim esta manhã mostrou-me um mundo cuja existência eu não conhecia. Mostrou-me que podia fazer alguém sorrir. Ensinou-me a ter noção do mundo real, com tudo o que isso pode significar.

Natal

Na 2ª feira passada a minha professora de anatomia contou-nos a sua triste experiência ao passar a noite de natal nas urgências. Dizia algo que me chocou profundamente e ainda assim não me espanta totalmente: nessa noite a minha professora viu bastantes idosos serem literalmente abandonados pelas famílias no hospital e eram tantos que não havia sequer macas, cobertores e almofadas para todos, e segundo a minha professora tudo o que ela lhes podia dar eram bolachas e leite quente. Sinceramente tenho dificuldade em imaginar tal situação. Além de me entristecer profundamente leva-me a pensar em dois assuntos que se podem relacionar com esta situação dramática. O primeiro é a situação dos idosos na nossa sociedade. O segundo é o modo como é encarado o natal.
De todas as fases da nossa vida é necessariamente no início e no fim desta que somos mais vulneráveis. E contudo é frequente vermos como as vidas de milhares de idosos no nosso país são marcadas pela solidão, pela tristeza, dificuldades económicas acentuadas e uma sensação de abandono pelas suas famílias, que só contribuem para agravar estados de saúde que seriam à partida debilitados. Basta vermos os lares de idosos, como aquele que visitei em introdução à medicina o ano passado e me marcou profundamente, sobretudo pela sensação que me deixava: todas aquelas pessoas pareciam ter morrido por dentro há muito vivendo apenas biologicamente, completamente alheias a tudo.
O natal tem-se transformado numa espécie de vertigem consumista que parece fazer maravilhas pelo estado do comercio (nestas alturas eu pergunto-me sempre se a tão falada crise sempre existe) mas duvido que as faça pela nossa consciência: apesar de muitas iniciativas de tornar a noite de natal algo de especial na vida de quem mais precisa, eu pergunto-me se o natal nos fará parar para pensar nos que estão mais perto de nós naqueles que fazem parte das nossas e de quem tantas vezes nos esquecemos na vertigem da rotina diária.

Contradições da sociedade actual

Vivemos no mundo das contradições: para onde quer que olhemos estamos rodeados por elas. A sociedade em que vivemos parece ter construído padrões quiméricos de vida apresentando-os como modelos inquestionáveis a seguir, pouco importando se as circunstancias da nossa vida são pouco ou nada compatíveis com eles. Somos bombardeados com uma cascata infindável de solicitações e apelos ao consumo (como exemplo, temos o pouco saudável espírito consumista, que ataca sempre nesta altura do ano, e que será tema de outro post) que são totalmente incompatíveis com o número de horas disponíveis para atender a tantas chamadas de atenção. Daí que são seja exactamente de espantar que tanta gente deseje mais ou menos abertamente que o dia não tenha 24 horas mas sim 48. Outro exemplo é o da manipulação de imagem e os ideais de beleza. Formámos na mente das pessoas uma ideia de beleza que é muito pouco realista. As tecnologia digital e cirúrgica para isso muito contribuíram: os modelos de beleza que são tão gritantemente diferentes da média da população que ao nos pressionarem a fazer de tudo para nos adaptarmos às exigências da moda nos levam a uma vida de angustia por nunca atingirmos o tão desejado modelo. E uma vez mais se olharmos para muita da comida disponível para o nosso consumo somos chegados ao mundo da abundância sobretudo dos alimentos hipercalóricos, em regra rápidos de ingerir e sempre saborosos, que em nada contribuem para o sucesso na demanda do corpo perfeito. Talvez não seja assim de espantar que as doenças do comportamento alimentar sejam cada vez mais preocupantes e convêm que não nos esqueçamos que mesmo quando as pessoas não sejam a ficar doentes, não significa que a angustia de ter de procurar o tamanho maior que existe nas lojas acessíveis ao grande publico seja caso raro: a obesidade é a considerada a epidemia do século XXI e certamente não o será por acaso. Talvez o problema real seja a nossa maneira de pensar que é profundamente errada: estamos tenta fazer crer que uma quimera, às vezes atingida por meios muito pouco ortodoxos, é uma realidade acessível a todos, quando de facto, e a experiência prova-o bem, não o é.

Educação

Depois de toda a confusão que a greve de alunos gerou nos últimos dias e um pouco em consequência do tema do post anterior creio que chegou a altura de pensar um bocadinho no papel de escola na sociedade actual. Qual é a sua principal função? A escola é o local onde se formam os conhecimentos das pessoas, ou é igualmente suposto transformar as suas atitudes e valores? E qual é o papel das famílias na educação? O que importa de facto ensinar? Não creio que alguém tenha alguma vez respondido a estas questões de modo inequívoco.
As alterações no papel da escola são o reflexo de alterações na própria estrutura da sociedade. Hoje em dia muitos pais trabalham muitas horas por dia e todos os dias perguntando-se onde ficam os filhos na sua ausência. Naturalmente esperam que estejam na escola, mas a escola tem o seu horário e este não é necessariamente igual ao dos pais. Estes horários limitam o tempo que os pais tem para os filhos e é muitas vezes atribuída as escolas a tarefa de formar as crianças enquanto futuros cidadãos, tarefa que tradicionalmente competiria à família destas, e para a qual as escolas não foram preparadas.
Vemo-nos portanto num impasse que é, na minha opinião a questão de fundo na educação, embora bem menos publicitada que muitas outras. O professor deve ensinar aos seus alunos o conhecimento que tem de modo a que os alunos aprendam matérias relevantes para o seu futuro (e creio que na ânsia de tornar o conhecimento mais prático os programas das disciplinas mais cientificas quase se tornam monótonas ou mesmo pouco lógicas ou pouco compreensíveis) ou torná-los melhores pessoas? E como? Afinal não foi essa a formação dos professores e eles não são pais dos alunos e é questionável se devem ser convertidos em seus substitutos de modo quando os pais não têm onde os deixar. A escola reflecte o contexto em que se insere, e isso e só isso define as suas características que são extremamente variáveis. Esse foi um outro assunto que ninguém parece ter intenção de compreender, contudo, na minha opinião, é de uma importância vital. O ambiente no qual os alunos vivem acaba por ter um grande peso na maneira como estes encaram a escola, e enquanto as enormes diferenças entre a envolvente das várias escolas não forem tidas em consideração será difícil ter um ensino mais justo, já para não referir em iniciativas hipócritas como o ranking das escolas que apenas hierarquiza o nível socio-económico das famílias dos alunos, que aliás não é novidade para ninguém. Por isso, e para concluir penso que é fundamental uma reflexão séria e sobre os problemas de fundo da educação em Portugal, que são indissociáveis dos problemas da sociedade.

Tradições académicas

Todos os anos por esta altura se reacende a discussão que envolve a tradição académica em geral e a praxe em particular. A minha preguiça impediu-me de vir escrever sobre este assunto, até que o blog da má-língua oficial da FML (o famoso fractura exposta) me forçou a uma reflexão mais séria sobre este assunto e me levou a escrever este post.
Antes de mais, convêm esclarecer a minha posição nesta matéria: eu sou contra a praxe. Contudo a minha posição é apenas a minha e tenho a noção de que e pouco convencional e pouco ortodoxa. Eu não defendo que se ignorem os novos alunos: agora o modo como essa recepção é feita e que penso que poderia e deveria mudar radicalmente. Afinal se somos todos adultos porque não nos limitamos a conversar civilizadamente com os novos alunos, colocando-nos à sua disposição para ajudar naquilo que a nossa experiência permitir. Poder-se-iam organizar todo o tipo de eventos, sem incluir os habituais rituais de cantorias e jogos de um gosto duvidoso. Em suma fazer algo mais inteligente e com alguma utilidade. A maioria das pessoas pensa que sem a praxe as pessoas não se conheceriam e não se integrariam sem o suposto espírito de camaradagem criado pela praxe. A mim estes argumentos estão longe de me convencer. Soam-me antes a uma espécie de lavagem ao cérebro que pelos vistos tem tido um imenso sucesso. Mas eu não sou apreciadora de chavões nem de lavagens ao cérebro e semelhantes premissas são desmentidas pela minha experiência pessoal: não conheci nenhum dos meus actuais amigos na praxe e o facto de não ter ido a muitas das sessões de praxe em nada dificultou a minha integração nem comprometeu o meu futuro na FML. Não pensem no entanto que eu sou fundamentalista: eu posso ser contra a praxe enquanto conceito: considero-a desnecessária e estúpida. Contudo eu sei que há praxe e praxe. Há praxe que e relativamente inofensiva e há praxe que de inofensivo não tem nada e que na minha opinião deveria ser proibida ou mesmo punida porque há muita coisa que é inaceitável por motivos de civismo até porque já existiram praxes com resultados trágicos (alguma pessoas tiveram de ser hospitalizadas ou mesmo morreram). Eu reconheço que existem pessoas que gotas da praxe tal como ela existe actualmente e não tenho nada que se organizem sessões de praxe, contudo penso que deveriam ser realmente facultativas (ou seja não coincidam com matriculas ou outras obrigações que façam com que as pessoas se desloquem a faculdade) e sejam anunciados como tal: mentir as pessoas e desonesto e indecente - ninguém gosta de ser enganado, creio eu.
Quanto aos movimentos anti tradição académica embora eu concorde em geral com as suas opiniões, desagrada-me o seu discurso demasiado político e a sua maneira de acção no terreno: não é a discutir num corredor apinhado de gente para se matricular que se vai resolver alguma coisa. Isto já para não mencionar que as suas opiniões não lhes dão o direito de desrespeitar os alunos mais velho só porque eles se encontram vestidos com o traje académico, sobretudo sem saberem nada das suas acções ou convicções. E não vejo nada de errado em as pessoas usarem o traje académico, mesmo se não forem praxar por não concordarem com a maneira com a recepção é feita, como é o meu caso – eu fui a minha faculdade conversar com os novos alunos e dar-lhes alguns conselhos que me pareceram úteis, além de lhes mostrar a organização da faculdade, uma vez que considero que isso é importante para estes.

The wind that shakes the barley

Depois de ter visto o filme Breakfast on Pluto, no qual o actor irlandês Cilian Murphyinterpreta o papel principal, lembrei-me do último filme que vi em que esse senhor entrava, não como travesti, mas como um médico irlandês que desiste de ir para Inglaterra para se juntar ao IRA. O seu idealismo e o seu contacto com a realidade social irlandesa em 1920 levam-no a uma luta pela mudança que terá grandes consequências na sua vida. Este filme conta a história da Irlanda tomando como exemplo não só a história do Dr Damien O'Donovan bem como a do seu pragmático irmão mais velho Teddy O'Donovan. Estes defendem de início posições semelhantes contudo com o passar do tempo e o alterar das circunstâncias eles vão-se afastando até se tornarem inimigos. Este filme deixou-me sem saber o que pensar sobre ele, já que e bastante triste (especialmente o final) contudo e apesar da sua falta de espectacularidade mostra-nos que é fácil um grupo inicialmente com um propósito comum dividir-se um facções inimigas, como um tipo bem-educado e bem intencionado se torna num assassino e como todas as nossa escolhas têm consequências.